Poesias offerecidas ás senhoras Portuenses/Horas de Melancolia
A minh'alma está triste e tão saudosa,
Que da vida soffrer mal pode o pezo!
De tormentos oppresso o desgraçado,
O mundo só lh'inspira odio, despreso!
Esperanças, venturas lisongeiras,
N'um momento destroe ferina sorte,
Deixando ao coração só pranto e dor,
E breves os instantes para a morte!...
Se da vida a carreira fora longa,
Do triste, ah! que seria, a quem a sorte,
Com rigor assentasse a mão pezada,
Faltando-lhe essa esp'rança, que ha na morte?..
Se n'alma seus espinhos não tocassem,
Gozara-se no mundo um mago encanto,
Se a não ferissem tanto, que deixassem,
Para sempre só dor, saudade, e pranto!..
A um dia de ventura. e doce paz,
Seguem-se mil d'angustia. e de tormento!
De revezes só cheia a triste vida,
Vive para arrastar o soffrimento!..
O mundo é illusão! a vida um sonho!
Do qual para morrer só se desperta!
Um sonho horrivel, que produz a dor,
A fortuna buscando sempre incerta!..