Poesias offerecidas ás senhoras Portuenses/Leandro e Hero

Leandro, e Hero.
 

Logo que Febo offuscava
A luz brilhante do dia,
Já o Hellesponto passava
Leandro com ousadia.
Do mar o risco olvidando,
Por entre as vagas nadando,
Ia a praia demandando
Lá onde um phanal luzia:

Hia ver Hero formosa,
Amante sua adorada,
Que longe delle saudosa,
Suspirava apaixonada,
Anciando com ardor,
Que a noute com seu favor
Lhe trouxesse nesse amor
A ventura desejada!

Ah! de quantos juramentos,
Foste, ó noute, a confidente!..
Que amorosos pensamentos,
D'amor na incendida mente;
No silencio teu calaste...
Revela quanto escutaste,
O que no seio occultaste,
N'esses felizes momentos!...

Ah Dize e revela a dor,
Que a desditosa soffreu,
Quando o misero amador
Entre as vagas feneceu!
Revela qual a paixão,
Horror, desesperação,
Que sentiu no coração,
Quando o seu amor perdeu!

Nessa noute de terror,
Em que o raio scintillava,
Em que o vento com furor.
Já o Hellesponto agitava;
Louco d'amor, denodado,
Sem temer o mar irado
Vae como era costumado,
Ver aquella, que adorava!

Ouve o mar medonho, e forte,
A amante Irisle, e saudosa,
E não cre, que desta sorte
Houvesse alma corajosa,
Que ao mar se fosse arrojar,
Entre as vagas a luctar;
E o phana! vae apagar,
Nunca mais sendo ditosa!..

Porém, ah! O terno amante
'Stá d'amor lão abrasado,
Que sem temer corre avante,
Que o pharol illuminado,
Era a sua luz, seu norte;
Mas oh dor!... já se apagou!
P'r'o triste tudo acabou,
Não resiste à dura morte!...

Sabendo a nova fatal,
D'Héro foi a dor tão forte,
Que jamais houve outra egual!
Brada, suspira, e na morte,
Vê só termo a seu penar,
E arrojando-se no mar,
Foi a existencia findar,
E do seu bem teve a sorte!..