Poesias offerecidas ás senhoras Portuenses/Soneto 5
Ao avarento.
Soneto.
A'vante, ó usurario! ó avarento!
Tua carreira torpe, ufano segue ;
Opprime os desgraçados, sim, prosegue,
Com tanto o cofre teu vá em augmento!
Fallava assim o espectro, e a passo lento,
Se vae aproximando, e já persegue,
O avaro, que medrozo bem percebe,
Que lhe resta da vida pouco tempo!
De tão medonha voz petreficado,
O misero ficou em tremor forte !
Affirma-se outra vez, e horrorisado,
Agarra-se ao thesouro, e téme o córte;
Mas vê do espectro o ferro alevantado,
Sem forças cae exhausto soffre a morte!.