Pois nasceis tão pequenino,[1]
Meu Menino celestial,
Entrai no meu coração,
Na minha alma descansai.
Vinde meu doce Menino,
Minha delícia chegai,
Recostai-Vos no meu peito,
Que Vos quero aninar.
Dormi minha adoração,
Meus amores repousai,
Que em que estais em terra alheia,
Em a Vossa terra estais.
Deitadinho no presépio,
Em o berço do portal,
Por ser esse o Vosso gosto,
Por Vosso gosto chorais.
Nas palhinhas do presépio,
Todo reclinado estais,[2]
Todo no amor encarnado,
Todo no branco cristal.
Meu Menino não choreis,
Pois com Vossa mãe estais,
Tomai o peito na boca
Da senhora Vossa mãe.
Olhai o Santo José,
Que junto de Vós está,
Que inda que é pai putativo,
É o senhor Vosso pai.
Dormi, dormi meu Menino;
Que este sono que Vos dá,
Inda que é sono da vida,
Há de ser sono mortal.[3]
Estribilho.
Ai, ai, ai,
Entrai no meu coração,
Na minha alma descansai,
Ai, ai, ai.
Vinde, correi, amor acordai,
Das palhinhas do portal,
Entrai no meu coração,
Na minha alma descansai.
Coplas.
Serafins do Céu,
Anjos do império,
Correi a Belém,
A ver o Menino.
Baixai querubins,
E achareis dormindo,
Nas sombras da noite,
O sol escondido.
Correi e vereis
Este sol nascido,
Sendo todo fogo,
Tremendo de frio.
Vereis nas palhinhas,
O tesouro rico,
Para nosso bem,
Do Céu produzido.
Delícia da glória,
Regalo de Egito,
Todo amor humano,
Todo amor divino.
Em tanta beleza,
Vendo-Vos tão lindo,
Se são tudo glórias,
Tudo são suspiros.
Não choreis amores,
Calai meu Menino,
Pois sois homem feito,
Tão recém-nascido.
Descansai meu bem,
Porque do caminho,
Vossa mãe Vos traz,
Muito cansadinho…
Estribilho.
Ai, ai, ai,
Entrai no meu coração,
Na minha alma descansai,
Ai, ai, ai.
Vinde, correi, amor acordai,
Das palhinhas do portal,
Entrai no meu coração,
Na minha alma descansai.