Outro vilançete seu estando doente porque lhe perguntaram que doença era a sua.
Preguntaysme de que moyro,
nam no ouso de dizer
porqu'ey medo de vyver.
Se menos paixam me desse
podermy'a queyxar dela,
mas dizerse nem sofrela
tudo quys que nam pudesse.
Para ter em quem tevesse
e mostrase seu poder,
me deu vyda sem vyver.
Meu mal he deçendimento
emcobrir donde deçende,
he paixam que nam s'entende
nem sabe seu fundamento.
Perdido contentamento
do que foy e ha de ser
e muyto mais de viver.
A dor he em sy mortal,
s'a ventura m'ajudasse,
para que me liberdasse
de tantos males huum mal.
Mas a causa prinçipal
em qu'estaa ser e nam ser,
nam se leyxa comprender.
Cobressem'o coraçam
de tristezas encubertas,
tem de dores muyto çertas
muy yncerto galardam.
E por mais condenaçam,
estando pera morrer
nam me posso arrepender.
Se sospeita me tocasse
que meu mal se conhecia,
quando m'ela nam matasse
eu por mym me mataria.
Que mor perigo seria
depoys de dito viver,
do que calando, morrer.
Fim.
Nam vos de meu mal sospeyta
que o causam desfavores,
nem tenho payxam d'amores
nem culpa de contra feyta.
Mas vy a rrezam sogeyta
de quem lh'a d'obedeçer
o mais nam quero dizer.