Quando Augusta soube realmente que Daniel partira para Minas, sentiu uma decepção; apesar da despedida solene que este lhe fizera e à família, Augusta acreditava que a viagem nunca seria executada.
Não supunha, note-se, que Daniel estivesse a fazer comédia quando se despediu deles; mas acreditava que lhe seria difícil deixar a corte. É que, apesar de tudo, Augusta estava convencida de que Daniel amava-a loucamente.
O advérbio era demais.
Daniel amava a rapariga, e justamente para acabar com esse germe, que já começava a desenvolver-se no coração, é que ele fazia aquela viagem. Ouvira dizer que as viagens são excelentes contra o reumatismo do coração.
Augusta sentiu-se ferida; o despeito pôde muito naquela ocasião.
A sua esperança foi que, demorando um último olhar na janela da casa dela, Daniel não pudesse seguir viagem e tornasse a entrar para casa, dispondo-se a encadear a existência ali a seus pés.
A esperança foi iludida.
Mas para que desejava Augusta isso, se o não amava?
Não sei; desejava-o.
Madalena procurou sondar o coração da filha depois da partida de Daniel.
— Que sentes tu a respeito desta ida súbita do Dr. Daniel? perguntou-lhe uma tarde.
— Eu, nada, respondeu Augusta. Acha que devo sentir alguma coisa?
— Não; era simples pergunta. Sabes que ele gostava de ti.
Nenhuma palavra mais se conseguia arrancar a Augusta relativamente a este negócio.
Um dia, Luiz estando com ela anunciou que voltava para a província, e que estava disposto a abandonar a carreira política. Acrescentou que até então tivera alguma esperança, mas que essa mesma se desvanecera.
— Pensei, disse Augusta, pensei que já não houvesse esperanças para o senhor.
— Havia uma...
— Qual?
— A de ser amado quando já todos se houvessem esquecido de mim!
— Perdeu essa esperança? disse Augusta. Olhe que não perdeu grande coisa.
— Perdi, porque ela era fundada numa base falsa. Eu acreditava até agora que o seu coração era mudo.
— Ah!
— Mas sei que não; o seu coração falou.
— Que disse ele?
Augusta estava disposta a gracejar; as suas últimas palavras foram ditas com um riso de escárnio cujo segredo só ela possuía.
— Disse que ama a um ausente...
Augusta levantou-se ao ouvir isto; olhou fixamente para Luiz e disse:
— Que é ilusão sua ou calúnia de alguém! Demais, creio que pouco lhe deve importar o sentimento do meu coração...
— Importa-me muito, D. Augusta. Não quero falar-lhe de amor, pois que já mo proibiu; mas permita que lhe pergunte só por que razão eu...
Augusta lançou-lhe um olhar de profundo escárnio e desprezo, voltou-lhe as costas e saiu.
— É demais! disse Luiz.
Pegou no chapéu e retirou-se.
— Que é isto? Por que motivo nutro eu uma esperança vã? Para ser insultado todos os dias? Aquela mulher é uma estátua; não tem sangue nem alma. É feita de um pedaço de mármore. Amar para quê? para ter neste amor o meu tormento e a minha humilhação? Não! é demais! tudo precisa de um termo.
Desse dia em diante, Luiz não voltou à casa de Madalena.