Daniel ao entrar em casa recebeu uma carta que lá deixara Valadares.

Desta vez, o janota ia divorciar-se da mulher.

Daniel sorriu e atirou a carta a um lado; mas no dia seguinte de manhã, apenas saiu à rua, recebeu a notícia como certa.

Tinham-se finalmente separado aquelas duas almas que não foram feitas para ser unidas, apesar da conformidade das tendências que se notava entre ambos.

O próprio Valadares veio confirmar a notícia.

Daniel encontrou-o no Rocio, junto à esquina do Clube Fluminense.

— Sabes, meu rico Daniel?

— O quê?

— Que eu vou pôr a sela à margem; a sela é minha mulher.

— Tu és o burro, disse Daniel rindo.

— Com três r r r.

— Mas eu ouvi dizer que já estavam separados?

— Já me mudei de casa; agora vamos tratar judicialmente do divórcio.

— Mas já pensaste nisto maduramente?

— Já pensei demais; se me não separo tão depressa, iria para o hospício.

— Se lá estivesses há mais tempo, não te casavas.

— Isso é verdade...

Despediram-se. Daniel foi rindo interiormente da situação de Valadares.

Na primeira vez em que se achou em casa de Augusta, encontrou lá Amélia.

A mulher de Valadares estava alegre como se não se houvesse dado na sua vida acontecimento de grande monta.

Daniel não lhe disse nada; mas Amélia, na primeira ocasião em que se achou com ele mais separada dos outros, contou-lhe a mesma coisa que o marido, com a diferença de que desta vez a vítima era ela e não ele.

Daniel ouviu como amigo a narração que Amélia lhe fazia, mas absteve-se de dar resposta nenhuma.

— Tudo isto, pensava ele consigo, voltando para casa, são argumentos para não casar nunca!

Anunciou-se um grande baile dado pelo tio de Augusta que se retirava com toda a família para a província. O velho deputado não era dado a essas coisas; mas, a pedido da sobrinha, fez tudo o que ela lhe indicou.

Augusta queria ter na corte um último triunfo.

Com efeito, na noite do baile esteve esplêndida. Ela tinha o condão de ser elegante, com simplicidade. Sobrava-lhe gosto. E tudo quanto podia fazer, fê-lo para aquela noite, que devia ser a sua última campanha.

Luiz ficou deslumbrado quando a viu entrar na sala, e não menos deslumbrado ficou Daniel.

A moça aceitou Daniel para seu primeiro par.

— Sabe que está deslumbrante? disse-lhe o rapaz, tomando o lugar na quadrilha.

— Deveras?

— É o que lhe digo. Demais, já todos os olhos lhe estão dizendo isto mesmo.

Depois dos antecedentes havidos entre Daniel e Augusta, era impossível que fossem mais familiares.

Posto que Luiz tivesse já grandes esperanças, com visos de certeza, de dominar completamente o coração de Augusta, todavia estava um pouco incomodado com as atenções que a moça tinha para com Daniel.

Sabia nada existir; mas receava, e bastava isso para atormentá-lo.

Tudo, porém, desapareceu, quando Augusta o aceitou para par da seguinte quadrilha.

— Não tive a satisfação de dançar a primeira, disse Luiz, mas espero que me conceda a segunda.

— Não nos compromete isso? disse Augusta.

— Por quê?

— Dizem que a segunda quadrilha é dos namorados.

Luiz sorriu cheio de satisfação.

— Dizem, é verdade, respondeu ele sem saber bem o que dizia.

No correr da quadrilha, desapareceu a menor sombra de susto de Luiz. Augusta estava mais do que nunca amável com ele.