Que importa, que meus cuidados

Mote
Que importa, que meus cuidados
não sejam bem referidos,
se para serem sabidos
não dependem de explicados.



1Se todo a vós me dedico,
quando todo a mim vos dais,
porque vós em mim ficais,
eu também em vós me fico:
vosso querer justifico,
tendo em vós assegurados
afetos tão requintados;
e se amor é compaixão,
a culpa, meu coração,
que importa? que? meus cuidados.

2Deus amado, e Deus amante,
oh quem trouxera ajustados
seus amorosos cuidados,
que sem vós nem um instante!
mas pois que o mundo inconstante
perturba amantes sentidos,
valham ardentes gemidos
de afetos interiores
pelo instante, em que os amores
não sejam bem referidos.

3Fazei, que eu logre a vitória
de uns atrevidos cuidados,
que quando quero explicados
perturbam minha memória:
oh se me alcançara a glória
de ter estes atrevidos
na confissão oprimidos,
onde não posso explicar,
se os conduzo a castigar,
Se para serem sabidos.

4Sempre nesta explicação
de meus cuidados secretos
quero mostrar uns afetos
de anelante coração:
vaidosa demonstração
de amores mal informados
que repetir meus cuidados
é nescedade de amor,
quando convosco, Senhor,
Não dependem de explicados.