No fim de cinco minutos, o major Gouveia continuou:

—Ouvi toda a sua narração e diverti-me com ela. Minha sobrinha não podia fugir hoje de minha casa, visto que há quinze dias se acha em Juiz de Fora.

Luís da Costa ficou amarelo.

—Por essa razão ouvi tranqüilamente a história que o senhor acaba de contar com todas as suas peripécias. O fato, se fosse verdadeiro, devia causar naturalmente espanto, porque, além do mais, Lúcia é muito bonita, e o senhor o sabe porque a viu ontem...

Luís da Costa tornou-se verde.

—A notícia, entretanto pode ter-se espalhado, continuou o major Gouveia, e eu desejo liquidar o negócio, pedindo-lhe que me diga quem a ouviu...

Luís da Costa ostentou todas as cores do íris[1].

—Então? disse o major, passados alguns instantes de silêncio.

—Sr. major, disse com voz trêmula Luís da Costa, eu não podia inventar semelhante notícia. Nenhum interesse tenho nela. Evidentemente, alguém me contou.

—É justamente o que eu desejo saber.

—Não me lembro...

—Veja se se lembra, disse o major com doçura.

Luís da Costa consultou sua memória; mas tantas coisas ouvia e tantas repetia, que já não podia atinar com a pessoa que lhe contara a história do rapto.

As outras pessoas presentes, vendo o caminho desagradável que as coisas podiam ter, trataram de meter o caso à bulha; mas o major, que não era homem de graças, insistiu com o alvissareiro para que o esclarecesse a respeito do inventor da balela.

—Ah! Agora me lembra, disse de repente o Luís da Costa, foi o Pires.

—Que Pires?

—Um Pires que eu conheço muito superficialmente.

—Bem, vamos ter com o Pires.

—Mas, sr. major...

O major já estava de pé, apoiado na grossa bengala, e com um ar de quem estava pouco disposto a discussões. Esperou que Luís da Costa se levantasse também. O alvissareiro não teve remédio senão imitar o gesto do major, não sem tentar ainda um:

—Mas, sr. major...

—Não há mas, nem meio mas. Venha comigo; porque é necessário deslindar o negócio hoje mesmo. Sabe onde mora esse tal Pires?

—Mora na Praia Grande, mas tem escritório na Rua dos Pescadores.

—Vamos ao escritório.

Luís da Costa cortejou os outros e saiu ao lado do major Gouveia, a quem deu respeitosamente a calçada e ofereceu um charuto. O major recusou o charuto, dobrou o passo e os dois seguiram na direção da Rua dos Pescadores.

Notas editar

  1. Íris: Arco Íris