Quem me ora dera,
Onde eu desejo,
Ver a quem não vejo.
Ver a quem devera,
Ver a quem quisera,
Nunca haver visto,
Por não viver nisto.
Vivo com cuidado,
De ir ver quem bem quero,
Se não desespero,
É por ser lembrado,
Do bem esperado.
Com a esperança,
Não farei mudança.
Na ribeira caçadora
Lá junto num prado
Fui, que nunca fora,
Dar co meu cuidado.
Achei-o mudado
Em a ver lavando
E assi cantando:
— Que penéis vos caballero,
Que justo es,
Pues yo lo quiero!
Com outras meninas,
Que panos torcia,
E logo em boninas,
Ela os estendia.
A dor que sofria,
Por se me dobrar,
Pus-me a cantar:
— O, que linda labradora,
Si mis daños,
Si lavasen con os paños.
Enxutos os panos,
Meus olhos molhados,
Meus males dobrados.