Reflexões sobre a Vaidade dos Homens (1980)/LII
Assim como é justa a vaidade de um Rei justo, também é iníqua a vaidade de um tirano: o esplendor de um trono adquirido injustamente não cega a atenção de sorte, que fiquem os olhos sem poder examinar-lhe os raios; um lugar tão sagrado, nem sempre o consideram os homens com imunidade. Os tiranos sempre foram objectos, não só dos louvores, mas também da crítica; não só das admirações, mas também dos reparos; não só do amor, mas também do ódio: se há quem os admire, também há quem os reprove; se a lisonja os iguala ao Sol, a censura sabe compará-los ao Cometa; se o amor lhes prepara agrados, também encontram aversões no ódio. As submissões não são todas voluntárias; e o respeito ainda quando degenera em adoração, nem sempre tributa um incenso puro, e muitas vezes procede de uma violência interior, e oculta; então por mais que as expressões se elevem, sempre a verdade se distingue da exageração; e por mais que o joelho dobre, sempre o desprezo fica inflexível no conceito.