Reflexões sobre a Vaidade dos Homens (1980)/LXIX
No desprezo da vida, é donde a vaidade se mostra altiva, e arrogante. Os clarins, que incitam ao combate, não são vozes, que a natureza intenda, a vaidade sim; aquela sempre vai com um passo vacilante, e trémulo; esta conduz o peito ardente, e furioso: por mais que se encontrem precipícios, e que os olhos só vejam fogo, e sangue, nem por isso desmaia o coração que a vaidade anima. Aquele a quem o escudo da fortuna cobre e que marcha resoluto, já cuida que está vendo os faustos do triunfo: aquele que prostrado, já fica agonizando, parece-lhe que expira, ou nos braços da vitória, ou nos da fama. Que felicidade de morrer! A vaidade tira da morte o semblante pálido, e horroroso, e só a deixa ver ornada de palmas, e troféus.