Reflexões sobre a Vaidade dos Homens (1980)/XVII
A razão não nos fortalece contra os males, que resultam da vaidade, antes nos expõe a toda a actividade deles; porque induzida pela mesma vaidade só nos mostra, que devemos sentir, sem discorrer sobre a qualidade do sentimento. No princípio dos nossos desgostos, a razão não serve para diminui-los, para exasperá-los sim; porque como em nós tudo é vaidade, também a nossa razão não é outra cousa mais do que a nossa mesma vaidade. Sente a razão o que a vaidade sente, e quando vimos a sentir menos, é por cansados, e não por advertidos. Daqui vem, que as mais das vezes devemos os nossos acertos menos à vontade, do que à nossa fraqueza; devemos a nossa moderação menos ao discurso, do que à nossa própria debilidade. Deixamos o sentimento por cansados de padecer. A duração do mal, que nos abate, nos cura.