Há entre os indianos uma seita composta por filósofos entre os brâmanes. Eles passam por uma existência frugal, abstêem-se de carne e comidas cozidas, ficando satisfeitos com frutas; e eles não as pegam frutas diretamente das árvores, mas apenas as que caem das árvores. Eles subsistem com elas, bebendo água do rio Tazabena[1]. Eles vivem nus, dizendo que o corpo foi constituído como uma roupa da alma pela deidade. Eles afirmam que deus é luz, não uma luz visível, ou uma luz como o Sol e o fogo; mas para eles, a deidade é o raciocínio, não aquele que pode ser expresso em sons articulados, mas o conhecimento pelos quais os mistérios da natureza[2] são percebidos pelos sábios. E essa luz, que eles dizem ser o raciocínio, seu deus, eles declaram que os brâmanes só conhecem através da rejeição solitária de toda opinião vã que é a última cobertura[3] da alma. Estes desprezam a morte, e sempre na sua linguagem peculiar[4] clamam por deus pelo nome que já mencionamos anteriormente, e cantam hinos (a ele). Mas nunca há entre eles mulheres ou filhos. Aqueles que querem viver uma vida como a deles, depois que cruzam o rio para o outro país, continuam a residir lá, e não voltam nunca mais; e estes também são chamados de brâmanes. Mas eles não passam suas vidas como os outros brâmanes porque têm mulher e filhos. E este raciocínio que[5] eles chamam de deus, eles afirmam que ele é corporal, envolvido por um corpo fora dele, como se estivesse usando uma roupa de ovelha, mas se despisse ele aparecia claramente ao olho. Mas os brâmanes dizem que há um conflito no corpo que os rodeia, (e eles consideram que o corpo é cheio de conflitos)[6]; em oposição a isso, como se estivessem reunidos para batalha contra os inimigos e combatendo, como já explicamos. E eles dizem que todos os homens são cativos de suas próprias lutas congênitas, a saber, sensualidade e luxúria, glutonaria, raiva, alegria, tristeza, concupiscência, e coisas assim. E aquele que triunfou sozinho sobre estes, vai para deus; por isso os brâmanes divinizam Dândamis, a quem Alexandre visitou, como alguém vitorioso num conflito corporal. Mas eles detestam Calanus, por ter se retirado profanamente de sua filosofia. Os brâmanes se livram dos seus corpos, como peixes pulando para fora d’água, em direção ao Sol.

Notas editar

  1. Na verdade, de acordo com Roeper, é um erro do manuscrito. O correto seria "rio Ganges".
  2. Ou "conhecimento" (ver Clemente de Alexandria, Strom., i., xv., lxxii.; Eusébio, Prapaerat. Evang., ix. 6.).
  3. Ateneu (Deipn., book ix) atribui essa opinião a Platão, com as seguintes palavras: "afirmou que era assim que a alma era constituída, e que deve rejeitar essa última cobertura, que é a de vaidade".
  4. Ou "eles chamam seu deus de Luz" ou "eles celebram a seu deus na sua própria linguagem peculiar e o nomeiam" etc.
  5. O texto aqui parece estar meio confuso. A tradução acima concorda com as versões francesa de Cruice e latina de Schneidewin. Eu tenho dúvidas sobre a exatidão, e uma alternativa ficaria assim: "... envolvida num corpo extrínseco à essência divina, como se estivesse em pele de ovelha; mas que esse corpo, ao ser despido dessa (cobertura), poderia ser visto a olho nu" ou "Este racioncínio que eles chamam de deus, afirmam ser incorpóreo, mas envolvido num corpo fora de si mesmo (ou seu próprio corpo) (como se já tivesse visto em uma cobertura); mas tendo despido-se do corpo no qual é envolvido, não é mais visível a olho nu" (Roeper). Eu não estou confiante nessa tradução, acredito que Roeper obscurece o texto grego com a paráfrase.
  6. As palavras intercalada são notas, na versão de Roeper.