Desta forma, a arte praticada pelos caldeus é mostrada como sendo instável. Deveria alguém, entretanto, alegar que, por questões direcionadas aos caldeus[1], o nascimento possa ser determinado, nem mesmo por isso é possível determinar o período preciso. Por que, supondo que cada detalhe necessário seja conhecido, até aqueles que não procedem - como nós provamos - com precisão, como, nós perguntamos, pode um indivíduo inculto compreender precisamente o tempo do parto, à medida que o caldeu adquira a informação necessária para fixar[2] o horóscopo corretamente? Porque a mesma estrela pode ser vista de modos diferentes no horizonte; mas supondo que essa declinação seja o horóscopo, e em outra a ascensão (será esboçado) o horóscopo de acordo com os lugares de onde é vista, sendo mais alto ou mais baixo. Pelo que também, deste quadrante não aparecerá uma predição correta, já que muitos ao redor do mundo podem nascer no mesmo momento, cada um observando as estrelas de uma direção diferente.

Mas a suposta compreensão (do período do parto) por meio da clepsidra[3] é igualmente fútil. Porque o conteúdo do vaso não fluirá da mesma forma quando está cheio e quando está pela metade; ainda, de acordo com seus registros, o pólo em si mesmo é movido por um impulso simples com velocidade uniforme. Se, entretanto, esquivando-se do argumento[4], eles deveriam afirmar que eles não contam o tempo precisamente, mas como acontece em qualquer altitude particular[5], eles serão refutados praticamente por si mesmo, pela influência de si mesmos. Sendo que aqueles que nasceram na mesma hora não experimentaram a mesma vida, mas alguns, por exemplos, tornaram-se reis e outros cresceram como mendigos. Assim como não nasceram iguais, como Alexandre o Macedônio, mesmo que tivessem nascido várias pessoas na mesma hora que ao redor da Terra; e assim também como o filósofo Platão. Por isso os caldeus, examinando a hora do nascimento em qualquer latitude em particular, não serão habilitados a dizer precisamente se uma pessoa que nascer nesta mesma hora será próspera. Muitos, por exemplo, nascido na mesma hora podem ser infelizes. Então a similaridade de acordo com as disposições é fútil.

Tendo, então, por diferentes razões e vários métodos, refutado o modo inútil de examinação adotados pelos caldeus, não devemos omitir, a saber, a amostra de que suas predições vão terminar em dificuldades inexplicáveis. Por que, como os matemáticos afirmam, é necessário que alguém nascido sob a ponta da flecha de Sagitário deve ter uma morte violenta, porque então muitas miríades de bárbaros que lutaram contra os gregos em Maratona ou Salamis[6] foram simultaneamente escravizados? Porque inquestionavelmente não havia o mesmo horóscopo, em todos os eventos, de todos. E novamente, é dito que se uma pessoa sob o cântaro de Aquário sofrerá naufrágio; (ainda que) muitos[7] gregos que retornaram de Tróia foram subjugados pelas profundezas das costas da Eubéia? Por mais incrível que pareça, distantes um do outro por um longo intervalo de tempo, deveriam todos eles terem nascido sob o cântaro de Aquário. Por isso é razoável dizer, freqüentemente, que todo aquele cujo destino era ser destruído no mar, todos aqueles que estivessem com ele no navio deveriam perecer. Porque a condenação deste homem deveria sobrepôr-se aos (destinos) de todos? Nem aqueles que morreram em terra deveriam ser preservados?

Notas editar

  1. O texto original estava corrompido, o significado foi aproximado, de acordo com as versões de Schneidewin e Cruice.
  2. Ou "ver".
  3. A clepsidra, um instrumento de medir tempo, foi, juntamente com o relógio solar, inventado pelos egípcios durante a dinastia dos Ptolomeus. Era empregada não só para medir tempo, mas também para cálculos astronômicos. Água, assim como diz o nome [do grego, "ladrão de água"], era o fluido empregado, mas podiaser utilizado mercúrio. O defeito inerente de um instrumento desta descrito é mencionado por Hipólito.
  4. Literalmente "torcendo", "tergiversando".
  5. Esse parece ser o sentido desta passagem, se comparar Hipólito com Sextus Empiricus.
  6. Omitido por Sextus.
  7. O abade Cruice observa que, apesar de diferenças verbais com Sextus, que os manuscritos de Refutação foi provavelmente escrito por alguém que ouviu partes de outros escritores, e transcreveu-as, freqüentemente equivocando-se sobre o som.