Mas eu não devo ser omisso a respeito daquele método de enganção destes (feiticeiros), que consiste na advinhação por meio de um caldeirão. Fazendo em uma câmara fechada e cobrindo o teto com cyanus[1] para esse propósito[2], eles introduzem certos vasos de cyanus[3] e os cobre até em cima. O caldeirão, cheio de água, é colocado no meio do chão; e o reflexo do cyanus apresente a aparência do Céu. Mas o chão tem uma abertura escondida, sobre a qual o caldeirão é colocado, tendo (previamente) colcado no fundo um cristal, enquanto que o caldeirão é feito de pedra[4]. Embaixo, porém, não notado (pelos espectadores), há um compartimento no qual os cúmplices se reunem, aparentemente para vestir roupas de deuses e demônios que o mágico deseja exibir. Depois o bobo, observando essas coisas, fica pasmo com a performance do mágico, e conseqüentemente acreditam em tudo que ele diz. Mas (o feiticeiro) produz um demônio em chamas ao desenhar na parede qualquer figura que ele deseje, e então cobrindo com uma droga, a saber de betume laconiano[5] e zaquintiano, enquanto, como se estivesse em êxtase profético, ele move a lâmpada em direção à parede. A droga, porém, é queimada com considerável esplendor. E faz uma Hecate flamejante aparecer se movimetando pelo ar, ele age desta maneira. Ocultando um certo cúmplice em lugar que ele deseja, (e) levando seus espectadores, ele os persuadem para (acreditar nele), alegando que será exibido um demônio flamejante flutuando no ar. Ele os exorta para que mantenham seus olhos fixos até verem a chama no ar, e (então), cobrindo-os com um véu, devem cobrir as suas faces até ele chamar os demônios; após dar essas instruções, ele, numa noite de lua nova, fala esses versos:

Infernal, terreno e celeste Bombo, venha!
Santo brilhante das ruas, que vaga pela noite;
Inimigo do brilho, mas amigo e companheiro da escuridão
Rejubilando em latidos de cães e sangue vermelho
Vadeando por cadáveres através das tumbas do pó sem vida
Procurando sangue; convulsionando homens medrosos
Górgona, Mormo e Selene[6] e de muitas formas
Vem, propício aos nossos sacrifícios!

Notas editar

  1. N.T.:A palavra original é cyanus, uma palavra que muitos autores não sabem o que significa exatamente. A mais próxima tradução é "centáurea-azul", um tipo de flor, mas no texto parece ser utilizado como uma pedra, minério ou pó.
  2. Alguns leriam faneron for paron.
  3. O que cyanus é exatamente não se tem certeza. Na era de Homero era uma palavra que designava um adorno de utensílios de guerra. O que quer que seja a natureza dessa substância, era de cor azul-escuro. Alguns supõem que seja aço azul ou cobre azul. Teofrasto diz que algo parecido com safiras.
  4. Ou "com a boca inclinada".
  5. Há um hiato nessa passagem.
  6. Ou "menmory".