Parece necessário citar um dos livros[1] reputados entre eles, na qual a seguinte passagem[2]:

"Eu sou a voz que se levanta do sono na era da noite. E então eu começo a despojar o poder que vem do caos. O poder que vem da parte mais baixa da lama, que levanta o limo da expansão incorruptível e úmida do espaço. E este é todo o poder da convulsão, que, mesmo em movimento, tendo a cor da água, gira aquilo que está parado, restringe as coisas trêmulas, liberta e ilumina[3] as coisas que habitam ali, remove as coisas ao aumentar, fiel guardião do traçado das brisas, aproveita as coisas expelidas pelos doze olhos da lei[4], manifestando um selo[5] ao poder que se distribui entre as águas invisíveis debaixo, e se chama Tálassa. Este poder ignorante foi acostumado a ser chamado de Cronos, guardado com correntes porque ele saltou com dificuldade o denso, nebuloso, obscuro e sombrio Tártaro. De acordo com essa imagem foram produzidos Cefeu, Prometeu e Japeto. Ao Poder que foi confiado Tálassa[6] é hermafrodita. E ao acelerar o som assoviado das doze boca em doze flautas, e espalhando por todos os lugares. O poder é súbito, e remove os controles, violentamente, movendo-se para cima (do mar), e selando os caminhos, até que (um poder opositor) possa guerrear ou introduzir alteração. A filha tempestuosa dele é fiel protetora de todas as águas, chamando-se Chorzar. É ignorantemente denominado de Netuno; de acordo com sua imagem, nasceram Glauco, Melicertes, Ino, Nebre[7]. Ele está circundado com a pirâmide de doze anjos[8] e cobre o porão da pirâmide com várias cores, e e completa a cor negra da Noite: essa a ignorância chamou de Cronos[9]. E seus ministros eram cinco - primeiro U, depois Aoai, Uo, Uoab e |[10]. Outros eram chefes confíaveis de suas províncias da noite e do dia, que repousam em seu próprio poder. A ignorância denominou-os de estrelas errantes, que dependem da geração corruptível. O chefe da ascensão da estrela[11] é Carfacasemeoqueir, (e) Ecabacara (também). A ignorância também denomina esses de Coribantes, chefes dos ventos; em terceiro está Ariel, sob cuja imagem nasceram Éolo e Bríares. E o chefe do (poder) noturno de doze horas é Soclan, ignorantemente chamado de Osíris; (e) sob ele nasceram Admeto, Medéia, Helena e Etusa. E o chefe do poder diurno de doze horas é Euno. O chefe da ascensão da estrela e das (regiões) etéreas é Protocamaro, mas a ignorância denominou de Ísis. Um sinal disso é a estrela Síro, sob sua imagem nasceram Ptolomeu, filho de Arsínoe, Dídima, Cleópatra e Olímpia. O braço-direito de Deus é o poder que ignorantemente foi chamada de Réia, sob sua imagem nasceram Átis, Migdon[12] (e) Enone. O braço-esquerdo tem senhorio sobre os alimentos, sendo chamada ignorantemente de Ceres, (enquanto que) seu nome pe Bena; sob sua imagem nasceram Celeu, Tripolemos, Mísia, Praxídica[13]. O braço-direito tem poder sobre os frutos, e a ignorância chamou de de Mena; sob sua imagem nasceram Bumegas[14], Ostanes, Hermes Trismegisto, Curites, Petosiris, Zodário, Berosus, Astrampsucos, (e) Zoroastro. O braço-esquerdo é (senhor) do fogo, (e) a ignorância chamou de Vulcano; sob ele nasceram Erictônio, Aquiles, Capaneu, Faetonte[15], Meleagro, Tideu, Enceladus, Rafael, Suriel, (e) Onfale. Há três poderes intermediários suspensos no ar, autores da criação. A ignorância chamou-os de Destinos; sua imagem gerou à família de Príamo, de Laio, Ino, Autónoe, Ágave, Atamante, Procne, Danao, e Pelias. Um poder hermafrodita, com infância perpétua, nunca envelhecendo, tendo beleza, maturidade, desejo e concunpisciência; e a ignorância chama de Eros; sua imagem gerou Páris, Narciso, Ganimedes, Endimion, Títono, Ícaro, Leda, Amimone, Tétis, Hespérides, Jasão, Leandro, (e) Hierão." Estes são os Proastioi do Éter, descrito no livro.

  1. Hipólito, no fim do capítulo, menciona um de seus livros Οἱ προάστειοι ἕως αἰθέρος, Os suburbanos ascendentes". Bunsen sugere Περάται ἕως αἰθέρος, Os etéreos transcendentes.
  2. O abade Cruice acha que o sistema de cosmogonia seguinte é traduzido ao grego de algum trabalho originalmente em caldeu ou síriaco. Ele reconhece algum elemento judeu, citando o fato de que os judeus, durante o período do cativeiro na Babilônia, deixaram se influenciar pela filosofia oriental. Por isso, pode ter origem judaica.
  3. Schneidewin diz que o texto está ilegível.
  4. O abade Cruice observa que a referência aqui é para o segundo livro da Torá (Êxodo 15:27), onde são mencionadas as doze fontes de Elim. A palvra hebraica ןיע significa tanto "fontes" como "olhos". Daí o erro do tradutor grego.
  5. Isto é, uma expressão poética, como Cruice observa (ver Jó 9:7).
  6. Schneidewin refere-se a uma passagem de Berosus, que afirma que essa pessoa foi chamada de Talata pelos gregos, Thalath pelos caldeus, enquanto que outros chamam de Omorca, Omoroca, ou Marcaia. O abade Cruice, entretanto, dá pouco valor a esses nomes, seguindo a avaliação de Scaliger, considerando espúrio. É desnecessário lembrar que a autenticidade de Berosus ruiu sob os ataques da crítica moderna.
  7. Miller sugere Νεφέλη, Cruice Nebo.
  8. Cruice acha que essa pode ser ua figura do ano e de seus doze meses.
  9. Miller lê como Κόρην.
  10. N.T.: Não há nada escrito sobre o quinto.
  11. Ou "ar".
  12. Millier lê como Μυγδώνη, outros Μυγδόνη.
  13. Miller lê como ᾽Απραξία.
  14. Miller sugere Βουζύγης.
  15. Miller lê como Φλέγων.