Vamos então, em primeiro lugar, explicar como (os peratos), derivando sua doutrina da astrologia, procedem aleivosamente contra Cristo, criando destruição àqueles que os seguem no erro. Porque os astólogos, alegando que há apenas um mundo, dividem em doze porções fixas de acordo com os signos do zodíaco, e chamam o mundo dos signos de "mundo imóvel"; e os outors afirmam ser um mundo de (signos) errantes, tanto em poder, posição e número, que se estende além da lua[1]. E (eles afirmam) que (um) mundo deriva de (outro) certa quantidade de poder, e há articipação mútua (nesse poder), e que o subjacente o obtém na participação das (porções) superjacentes. A fim de que as aserções possam ser mais exatas, eu irei empregar uma das várias expressões dos astrólogos; (e ao fazer isso) eu devo apenas lembrar aos leitores das afirmações feitas no livro anterior, que trata dos astrólogos. As opiniões dos especuladores são as seguintes:

(Sua doutrina é) que pela emanação das estrelas, a gerações das (partes) subjacentes são consumidas. Porque, como eles olham cuidadosamente ao céu, os caldeus afirmam que (as sete estrelas)[2] há uma razão para as causas eficientes da ocorrência de todos eventos que acontecem conosco, e que os signos fixos do zodíaco cooperam (nesta influência). (Dividindo-se em doze partes), cada signo do zodíaco tem trinta porções, e cada porção tem sessenta partes menores ainda; eles identificam as partes menores e as que são indivisíveis. E a respeito dos signos do zodíaco, eles denominam alguns de machos, outros de fêmeas; e alguns têm dois corpos, enquanto que outros não; outros são tropicais, e outros são firmes. Os signos, porém, são tanto masculinos como femininos, possuindo uma natureza cooperativa para a procriação. Denomina-se Áries um signo masculino e Touro feminino; e o resto (são denominados) de acordo com a mesma analogia, alguns masculinos, e outros femininos. E eu suponho que os pitagoreanos, sendo influenciados por essas (considerações), denominam a Mônada masculina, e a Díade feminina, e a Tríade masculina e assim sucessivamente. Enquanto que alguns dividem cada signo do zodíaco em doze partes empregando o mesmo método. Por exemplo, começando em Áries, eeles denominam sendo Áries masculino, Touro feminino, Gêmeos masculino; e o mesmo esquema continua com o resto das partes. E eles falam ainda sobre os signos, de acordo com a formação dos copros, sendo o signo com dois corpos, Gêmeos, e os signos diametralmente opostos, Sagitário, Virgem e Peixes, e o resto com um corpo só. Eles também (afirmam) que alguns são tropicais, e quando o sol passa por eles, há grandes movimentos[3] no (signo) mais próximo. Áries é um signo desse tipo e tem a mudança para a primavera, e seus signos opostos também têm suas mudanças, Capricórnio para o inverno, Câncer para o verão e Libra para o outono.

Os detalhes foram explicados no livro anterior; e para os que desejam instrução, possa aprender sobre os elaboradores da heresia perata, Eufrates, o Perato e Celbes, o Caristiano[4] tendo transferido (de outras fontes, em seu próprio sistema de opiniões,) fizeram alterções apenas na denominação, enquanto que na realidade, têm doutrinas similares. (Além do mais) eles têm, com zelo imoderado, devotado (sua atenção) à arte (dos astrólogos). Os astrólogos também falaram dos limites das estrelas, em que afirmam que as estrelas dominantes têm maior influência; assim alguns agem injuriosamente, enquanto que outros agem mais moderadamente. E eles denominam alguns de maliciosos e outros de benevolentes. E (as estrelas) contemplam umas às outras, e harmonizam entre si, para que elas possam ter (a forma) de um triângulo ou quadrado. As estrelas, observando as outras, formam (a figura)[5] de um triângulo, tendo a distância interviente de três signos do zodíaco; enquanto que (aquelas no intervalo de) dois signos do zodíaco formam (a figura) de um quadrado. E, (usando) o corpo do homem, diz que as partes subjacentes simpatizam com a cabeça, e a cabeça com as partes subjacentes, e então todas as partes terrestres (simpatizam) com as super-lunares[6]. Mas (os astrólogos vão além disso)[7]; porque existem (de acordo com eles) uma certa diferença e incompatibilidade[8] entre eles, assim para não misturar na mesma união. Essa combinação e divergência das estrelas, que é uma (doutrina) caldéia, foi elaborada por aqueles que já falamos anteriormente.

Eles, falsificando o nome da verdade, proclamando como se fosse uma doutrina de Cristo de que uma insurreição dos éons e a revolta dos bens em poderes malignos; e eles falam sobre a confederação dos poderes bons com os maus, denominando-os Torpachai e Proastioi[9] e (assim) criando para si mesmo muitos outros nomes não sugeridos (pelas suas fontes), eles sistematizaram, de forma muito amadora, a doutrina imaginária dos astrólogos a respeito das estrelas. E já que eles introduziram uma hipótese grávida de enorme erro, eles devem ser refutados pela instrumentalidade de nosso sistema admirável. Porque eu devo comparar, em contraste com a arte dos astrólogos da Caldéia, alguns dos tratados peratos[10], pelos quais poderemos mostrar que as doutrinas peratas são baseadas nos astrólogos, não em Cristo.

  1. Ou "é parte da lua."
  2. Algumas opiniões são supridas por Sextus Empiricus.
  3. Ou "produz alterações e causa movimentos".
  4. Celbes, como observado em uma nota anterior também é chamado de Acembes ou Ademes. Ele é chamado de "Caristo", e outro fundador da heresia de "perato". O último é um termo frequentemente usado para designar Eubéia, isto é, o país além (πέραν) do continente, e Caristo tem origem similar. Esta parece ser colocado numa conjectura por uma passagem de Clemente de Alexandria (Strom., vii. vol. ii. p. 555), já aludida, que diz que algumas heresias, como as dos marcionitas e basilidianos, derivam seus nomes dos seus fundadores ou do lugar de nascimento deles. Como exemplo, ele cita os peratos.
  5. Algumas deficiências do texto são supridas com Sextus Empiricus.
  6. Ou "celestiais".
  7. Essa expressão άλλὰ γάρ requer ser ocultada. Pode ser traduzida como "além do mais". Miller lê como ῞Αλλη γάρ, isto é, "Há outras diferenças", etc.; mas isso não concorda com Sextus Empiricus.
  8. Ou "afinidade"; συμπάθεια é, entretando, propriamente alterada em ἀσυμπάθεια, de acordo com Sextus.
  9. Isto é, "autoridades dos locais e subúrbios".
  10. Sobre a heresia perata, tanto Hipólito como Teodureto afirmam ter sido originada no Eufrates. Orígenes, por outro lado afirma (Contr. Cels., vi. 28) que no Eufrates foi onde se iniciou a heresia ofita. Partindo daí, é possível inferir que Orígenes não foi o autor do presente livro.