Vamos agora ver os sitianos[1] e suas doutrinas. Eles acreditam em três princípio definitivos do universo, e cada um possui poderes infinitos. E quando eles falam de poderes[2], veremos o que eles falam sobre isso. Tudo que você discerne pela inteligência, ou também omite, não entende, essa natureza se torna um dos princípios, como na alma humana, e de tudo que é objeto de instrução. Apenas por exemplo, dizem eles, esta criança será um músico, tendo esperado o tempo requisitado (para adquirir o conhecimento) da harpa; ou um geômetra, (tendo previamente estudado para obter o conhecimento) da geometria; (ou) um gramático, (tendo estudado suficientemente) gramátrica; (ou) um operário, (tendo adquirido conhecimento técnico) no artesanato; e aquele que traz o contato com o resto das artes, também irá ter uma ocorrência similar. Os princípios das substâncias, para eles, são a luz e a escuridão; e destes, o espírito é intermediário sem se misturar. O espírito, entretanto, é aquele que tem um lugar entre a escuridão, que está embaixo, e a luz, que está acima. Não é o espírito algo no sentido de uma corrente de vento, ou brisa suave; mas como se fosse unção de incenso e outros compostos. (É) um poder súbito, que lembra um fragância imulsiva, que é inconcebível e não pode ser expressa por palavras. Assim a luz está acima e a escuridão embaixo, e espírito como intermediário; e a luz é constituída por algo como o raio de sol, brilha acima, sobre a escuridão; e novamente, já que a fragância do espírito está num lugar intermediário, é estendida e carregada em todas as direções, como se fossem oferendas de incenso sobre o fogo, podendo sentir seu odor por todas as direções; quando se diz que essa divisão obedece aos princípios que são classificados em três divisões, significa que o poder do espírito e da luz existem simultaneamente na escuridão de baixo. A escuridão é como se fosse um espécie de água terrível, na qual a luz é absorvida e transformada em uma natureza de igual descrição com o espírito. A escuridão, porém, não é desprovida de inteligência, mas também tem reflexos, e é consciente de que, onde a luz foi tirada da escuridão, a escuridão permanece isolada, invisível, obscura, impotente, inoperante (e) débil. Por isso é constrangida, por todos os seus reflexos e inteligência, para tentar coletar a cintilante luz com a fragância do espírito. E é possível ver uma imagem desta natureza na fisionomia do homem; por exemplo, a pupila do olho escurece com os humores subjacente, (mas) é iluminada com espírito. Assim então a escuridão procura o esplendor, tentando conseguir as suas faíscas, e possa ter poder de percepção, como a luz e o espírito procuram o poder que pertence a eles, e se esforçam para seguir para cima e em direção de um e outro para carregarem seus poderes juntos na escuridão e água que fica embaixo.

Mas todos os poderes dos três princípios originativos, que são comparados a número infinitos, estão de acordo com sua própria substância refletiva e inteligente, incontável. E assim a sua reflexão e inteligência são infinitos na multidão, enquanto eles continuam em si mesmo, eles são tudo no final. Se, entretanto, o poder se aproximar do outro, a dissimilaridade do (está colocado) justaposto produz um certo movimento e energia, que são formados do movimento resultante do efeito juntado pelo justaposição dos poderes aglutinados. Porque a aglutinação dos poderes resulta, como se fosse a marca de um selo[3] que é impresso por meio da união correspondente entre a figura (do selo) nas substância que entram (em contato). Assim os poderes dos três princípios são infinitos em número, e dos poderes infinitos (realizam-se) uniões infinitas, imagens infinitas dos selos são produzidas. Essas imagens são as formas de várias, senão todas, espécies de animais. Da primeira grande união dos três princípios, faz-se uma grande forma, um selo do céu e da terra. O céu e a terra têm uma figura similar ao útero, tendo um umbigo no meio; e se, dizem eles, qualquer um que deseja comarar essa figura com o órgão, deve examinar o útero grávido de qualquer animal que ele deseja, e ele irá descobrir uma imagem do céu e da terra, e de todas as coisas que estão no meio e são inalteráveis embaixo.

(E assim a primeria grande união dos três princípios) produziu uma figura do céu e da terra, como se fosse o coito. Mas, de novo, no meio do céu e da terra foram gerados uniões infinitas de poderes. E cada união seguiu esse princípio, do selo do céu e da terra, similares a um útero. Mas, novamente, na terra, dos infinitos selos ques aõ produzidos multidões infinitas de animais. Mas na infinidade dos diferentes animais sob o céu, estando difusa e distribuída, junto com a luz e a fragância do espírito de cima. Da água foi produzido o primeiro princípio originador, a saber, o vento, (que é) violento e turbulento, e causa de toda criação. Após produzir toda sorte de fermentos na água, (o vento) levanta ondas sobre a água; e o movimento[4] das ondas, assim como o poder impulsivo da gravidez é origem da produção do homem ou da mente[5] é causada quando (o oceano), excitado pelo poder impulsivo do espírito, é movido para a frente. Quando essa onda, que foi levantada da água pelo vento, e após iniciar a gravidez na natureza, tendo o obtido o poder, próprio das mulheres, da criação, segura a luz e espalha para cima, junto com a fragância do espírito - isto é, a mente das diferentes espécies. E essa (luz) é um deus perfeito, que da radiação sem começo de cima, e do espírito, é criado na natureza humana como se fosse em um templo, pelo poder impulsivo da Natureza, e pelo vento. E é produzido da água sendo combinado[6] e introduzido nos corpos como se fosse sal[7] das coisas existentes, e luz nas trevas. E luta para ser liberto dos corpos, e não pode encontrar a libertação e um caminho para si. Mas uma chama diminuta, uma lasca ignorada de cima, como o raio de uma estrela, foi combinada às águas de muitas (existências)[8] como, dizem eles, (Davi) fala num salmo[9]. Então todo pensamento e preocupação em relação às coisas superiores sobre como liberá-las, pela morte do corpo depravado e sombrio, do Pai que está embaixo, que é o vento barulhento[10] e o tumulto feito pelas ondas, e possam criar a mente perfeita, seu próprio Filho; não sendo sua (prole) substancialmente peculiar. Porque ele foi um raio (enviado) de cima, da luz perfeita, (e) foi subjugado na escuridão[11] na água formidável, penosa e corrompida; e ele é um espírito luminoso que foi criado sobre a água[12]. Quando as ondas que foram levantadas das águas receberam o poder da criação, próprio das mulheres, eles contêm, em diferentes espécies, a radiação infusa, visível no caso de todos os animais[13]. Mas o vento, ao mesmo tempo feroz e formidável[14] soprando com um som de silvo, como uma serpente[15].

Primeiro do vento - isto é, da serpente - resulta o príncipio originativo da forma declarada, com todas as coisas recebend o princípio da criação. Depois que a luz e a serpente foram recebidos, dizem eles, no útero poluído e desordenado - o vento das trevas, o primogênito das águas - entra dentro e produz o homem, e o útero impuro não reconhece ou ama nenhuma outra forma. A palavra perfeita da luz superior é então assimilada (na forma) da besta, (isto é) da serpente, entrando no útero corrompido, enganando (o útero) através da semelhança com a besta em si, a fim de que (a palavra) possa soltar as correntes que circulam a mente perfeita que foi criada em meio à impureza do útero pela prole da água, a serpente, vento e besta[16]. Isso, dizem eles é a forma do servo[17] e é por isso que é necessário que a Palavra de Deus venha no útero de uma virgem. Ainda assim, para eles não é suficiente que o Homem Perfeito, a Palavra, entre no útero da virgem e solte as ânsias[18] que estão naquelas trevas. Há mais requisitos após sua entrada[19] nos mistérios ilícitos do útero, ele foi lavado, e bebeu o copo da água da vida[20]. E também era necessário que ele bebesse para que aquele que foi tirado de suas funções celestiais, e assumir a aparência celestial.

Notas editar

  1. Esta é a forma na qual ocorre no trabalho de Hipólito, mas a forma correta é setianos. A respeito desta seita ver Irineu, Contr. Hæres., i. 30; Tertuliano, Præscript., c. lxvii.; Teodureto, Hæret. Fabul., i. 14; Epifânio, Advers. Hæres., c. xxviii., xxxvii., and xxxix.; Augostinho, De Hæret., c. xix.; Josefo, Antiq. Judaic., i. 2; Suidas sbre a palavra “Seth.”
  2. De δυνάμεις…λογιζέσθω, Bernays lê como δυνάται…λογίζεσθαι, "Enquanto eles fazem essas asserções, podem calcular", etc.
  3. Ou "forma de um selo".
  4. Ou "produção".
  5. Esta é a forma que Cruice usou para suprir o hiato. Miller usou "homem ou boi".
  6. Ou "escondido".
  7. ἅλας τῶν γενομένων, Miller lê como ἀλάλων.
  8. Foi adotado o preenchimento de Miller para o hiato acima. O abade Cruice sugere a seguinte emenda: "Porque foi combinada uma certa chama diminuta da luz (que subsiste) junto com a fragância superior, do espírito produzindo, como um raio, o composto dissolvente, e a dissolução nas coisas compostas."
  9. Salmos 29:3
  10. βρόμῳ, alguns leriam como βρασμῷ, isto é, "agitador", literalmente "fervente".
  11. σκοτεινῷ, alguns leriam σκολῷ, "dobrado", "envolto na escuridão".
  12. Ou "luz".
  13. Há um hiato aqui. A deficiência é completada por Cruice com afirmações anteriores de Hipólito, como se pode ver.
  14. Ou "forte".
  15. Essa passagem está obscura. A tradução acima segue Schneidewin e Cruice. O texto de Miller está assim: "O vento, ao mesmo tempo forte e formidável, sopra como uma serpente rastejadora e alada. Seu texto está como τῷ σύρματι ὄφει παραπλήσιος πτέρωτος, mas sugere πτερωτῷ· ὡς ἀπὸ.
  16. Schneidewin faz uma parada após "vento", e começa a próxima sentença com ποιεῖν(besta).
  17. Filipenses 2:7
  18. Atos 2:24
  19. Miller leria como μετὰ τὰ…ἐξελθὼν, "ele foi aos mistérios ilícitos do útero", etc.
  20. João 4:7-14. Alguns lêem como ποιεῖν ao invés de πιεῖν, "um trajeto que ele deve trilhar", etc.