Estas afirmações são as principais[1] da doutrina setiano, à medida que podemos escrever sobre ela em poucas palavras. Seu sistema é feito (das doutrinas) dos (filósofos) naturais, e de expressões elaboradas em referência a outros assuntos; e transferindo (o sentido) destas afirmações ao Logos eterno[2], eles se explicam, como declaramos. Eles afirmam que Moisés confirma sua doutrina quando diz, "trevas, neblina e tempestade." Eles, (os setianos) dizem que são os três princípios do nosso mundo; eles ainda afirmam que os três foram criados no paraíso - Adão, Eva e a serpente; ou também se refere à três pessoas, Caim, Abel e Sete; e novamente de outros três - Sem, Cã e Jafé; ou também aos três patriarcas - Abraão, Isaque e Jacó; ou quando eles falam da existência de três dias antes do sol e da lua; ou quando são mencionados três tipos de leis - proibitiva, permissiva e punitiva. Uma lei proibitiva seria o que se segue: "De toda a árvore do jardim comerás livremente, mas da árvore da ciência do bem e do mal, dela não comerás"[3]. E na passagem "Sai-te da tua terra, e da tua parentela e da casa de teu pai, para a terra que eu te mostrarei"[4], mostra uma lei permissiva; porque deve se estar disposto a partir aquele que não está disposto a ficar. E uma lei punitiva está na seguinte declaração: "Não cometerás adultério, não matarás, não roubarás"[5], porque uma punição é dada àqueles que cometem esses atos de maldade.

O sistema de sua doutrina, entretanto, é (derivado)[6] dos antigos teólogos Museus, Lino e Orfeu[7] que elucidam especialmente as cerimônias de iniciação, assim como os mistérios. Porque sua doutrina do útero é também uma doutrina de Orfeu; e a (idéia do) umbigo[8] que é a harmonia[9], com o mesmo simbolismo das bacanais de Orfeu. Mas antes da observância do rito místico de Celeu, Tripolemo, Ceres, Proserpina e Baco em Eleusis, essas orgias eram celebradas em Flío[10] da Ática[11]. Antecedentes os mistérios eleusinos, eram encenadas em ---- as orgias[12] da "Grande (Mãe)". Porém há um pórtico nessa (cidade), e nele está escrito uma representação, (visível) até hoje, de todas as palavras que foram faladas (em tais ocasiões). Muitas delas são a respeito das discussões de Plutarco em seus dez livros contra[13] Empédocles. E nos maiores[14] números dos livros contém a imagem da representação de um homem idoso, com cabelo grisalho, alado[15] tendo seu pudendo ereto, perseguindo uma mulher de cor anil[16]. E sobre o homem idoso há a inscrição phaos ruentes e sobre a mulher pereëphicola[17]. Mas phaos ruentes[18] é interpretado pelos setianos como o luz (que existe), e phicola as águas escuras; enquanto que no espaço entre eles há uma harmonia criada pelo espírito que foi colocado entre eles. O nome phaos ruentes manifesta com o fluir da luz para cima, de acordo com sua alegação. Por isso é razoável supor que os setianos celebram ritos assim, muito próximos às orgias (observadas) pelos filasianos à "Grande Mãe". E o poeta parece dar testemunho da divisão tripla quando diz: "E todas as coisas foram divididas em três partes, e tudo obteve sua distinção (própria)"[19], isto é, cada uma das partes da divisão obteve uma capacidade (particular). Em relação à doutrina da água subjacente, que é escura, porque a luz foi arrumada para fluir para cima e receber a chama que se origina embaixo; em relação à essa doutrina, suponho que os sábios setianos derivam (sua opinião) de Homero:

Pela terra eu juro, e além dos Céus acima,
E abaixo da corrente do Estige, o maior juramento
Do poder solene, para atar os benditos deuses."[20]

Isto é, de acordo com Homero, os deuses consideram a água como sendo repugnante e horrorosa. É o contrário da doutrina dos setianos, que afirma (que a água) é formidável à mente[21].

Notas editar

  1. προστάται. Essa é uma expressão militar aplicada àqueles com as maiores patentes num batalhão de soldados; mas também é empregada em assuntos civis, para designar, usando um exemplo de Atenas, aqueles que protegiam os μέτοικοι (estrangeiros, literalmente alienígenas), e outros sem direitos de cidadão. Προστάτης era o patronus romano.
  2. Ou "peculiar a eles".
  3. Gênesis 2:16
  4. Gênesis 12:1
  5. Êxodo 20:13-15
  6. ὑπὸ, de acordo com Miller.
  7. Eles pertencem ao período lendário da filosofia grega. Museus fez sucesso em Atena, Lino em Tebas, e Orfeu na Trácia. Eles postulavam suas doutrinas em sistemas teológicos brutos, que consequentemente inspiraram a cosmogonia e teogonia de Hesíodo. Ver Treatise on Metaphysics, cap. II, 33, 34.
  8. ὀυφαλος; pode ser também φαλλὸς, que siginifica a figura, geralmente de madeira, de um membrum virile. Isso harmoniza com o que Hipólito já mencionou sobre Osíris. Uma figura de acordo com essa descrição era carregada em procissões solenes nas orgias de Baco como símbolo do poder de criação da natureza. A adoração do lingam entre os hindus tem a mesma descrição.
  9. ἁρμονία (Schneidewin). Cruice lê como ἀνδρεία (virilidade), que concorda com φαλλὸς (ver nota precedente). Para φαλλὸς, Schneidewin lê ὀμφαλός (umbigo).
  10. N.T.:Parece que Flío era um monte ao nordeste da ilha de Quíos, ou pode se referir à Fliunte, no território grego de Argolis.
  11. Ou "da Acaia" (ver Meinekius, Vindic. Strab., p. 242).
  12. A leitura de Miller está obviamente incorreta, a saber, λεγομένη μεγαληγορία, sugerindo ele μεγάλη ἑορτή. Outras tentativas foram feitas para preencher e esclarecer o significado, mas não diferem muito da tradução acima, que é coincidente com outras fontes.
  13. πρὸς, ou "a respeito". Entretanto, uma referência do catálogo dos trabalhos de Empédocles, dado por Fabricius (t. v. p. 160), mostra que para πρὸς, deve se ler εις.
  14. πλείοσι, Miller leria como πυλεῶσι, "portões".
  15. Ou πετρωτὸς, usado com πετρώδης, "feito de pedra" [Nota do editor original: Uma genitália masculina alada era usada pelas mulheres de Pompéia como ornamento, sendo substituída pelas mulheres cristãs por uma cruz.].
  16. κυανοειδῆ; alguns leriam κυνοειδῆ, "como um cão".
  17. Alguns interpretam que seja Persófone.
  18. Ao invés disso, alguns lêem como phanes rueis, que é uma expressão encontrada em um hino de Orfeu.
  19. Ilíada, XV. 189 (Veja a passagem sobre Hesíodo no fim do primeiro livro).
  20. Ilíada, xv. 36–38 (Lord Derby); Odisséia, v. 185–187.
  21. Miller propõe razoavelmente que ao invés de τῷ νοΐ , ler como στοιχείο ν, "que afirma que a água é um elemento formidável."