Minha mãe assuba,
Fale como gente;
Assuba o palácio,
Fale ao presidente.
Pegue na cabocla,
Dê-lhe co'o bordão,
Qu'ela foi a causa
Da minha prisão,
A minha prisão
Foi ao meio dia,
Nas casas estranhas
Com grande agonia.
Mortinho à fome.
Mortinho à sede,
Só me sustentava
Em caninha verde.
- “Dona, por aqui?
Grande novidade. . .
"Vim soltar um preso
Cá nesta cidade. . .
Senhor presidente,
Que dinheiro vale?
Tenho duzentos contos
Por José do Vale.
- "Dona, vá-se embora,
Qu'eu não solto, não;
Que seu filho é mau,
Tem ruim coração;
Matou muita gente
Lá nesse sertão;
Da minha justiça
Não faz conta, não.
"Tenho meu lacaio
De minha estimação,
Pra seu presidente
Não tem preço, não.
Senhor presidente,
Pelo incontinente
Solte Zé do Vale,
Pelo sacramento!
"Senhor Presidente,
Não abra a porta, não;
Se eu cair na rua,
Faco escalação.."
"Minha mãe, vá-se embora,
Deixe de cegueira,
Qu'eu hei de ser solto
No Rio de Janeiro."
"Quem tiver seu filho
Dê-lhe ensinação,
Prá nunca passar
Dor de coração;
Quem tiver seu filho
Dê-lhe todo o dia,
Ao depois não passe.
Dores de agonia."
"Adeus, minha mãezinha,
Mãe do coração;
Dê lembranças a Aninha,
E a meu mano João;
Mana, vá-se embora,
Guarde o seu dinheiro,
Qu'eu vou me soltar
No Rio de Janeiro."
(Segue-se o Bumba-meu-boi)