Relatório da comissão mista brasileiro-peruana de reconhecimento do Alto Purus/Aspecto geral...
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Aspecto geral do rio Purus e seus afluentes
editarRio de baixada, a exemplo de todos os grandes afluentes da margem direita do Amazonas, o Purus logo ao primeiro lance de vistas, afigura-se perfeitamente estável, como se já houvesse adquirido um perfil longitudinal invariável, resultante de um perfeito equilíbrio entre a força erosiva da corrente e o atrito sobre o leito. Desenrola-se extensíssimo e contorcido em múltiplas curvaturas, algumas muito forçadas, outras em forma de ferradura, até às cercanias de suas últimas cabeceiras, numa distância itinerária de 1733 milhas, sem que uma corredeira, um redemoinho apreciável ou um pego profundo lhe denunciem, mesmo em ligeiros traços, a feição perturbada dos cursos de água que ainda preparam o seu leito, constituindo-se poderosos agentes geológicos no modelarem os mais notáveis facies topográficos.
Mas esta primeira aparência, que ante uma observação ligeira o colocaria entre os rios mais navegáveis da terra, é bastante alterada pelos resultados de uma observação mais longa.
Assim, em primeiro lugar, a despeito de sua extraordinária massa de águas, ele patenteia oscilações de nível extremamente exageradas, variando na confluência de 17m da vazante para as enchentes; na boca do Acre, de 23m; na do Iaco, de 20m a 20'80.30 Deste modo o seu aspecto sofre uma primeira variação nos estreitos períodos das estações anuais: o viajante que o sulca nos primeiros dias do ano, passando quase ao nível dos sítios que o marginam — ao voltar, apenas transcorridos alguns meses, vem pelo fundo de uma calha desmedida, que as mesmas vivendas sobranceiam, dominantes, sobre a crista de barrancas altíssimas.
Ao mesmo tempo a navegação que de Dezembro a Abril, pode ser efetuada até Curanja e mesmo até a Forquilha pelas embarcações de grande calados, fica reduzida, até para as menores lanchas, às escala extrema da boca do foz, parando na Cachoeira as embarcações maiores. A esta larga variação de regímen, conseqüência imediata da vasta bacia de captação do grande rio e do clima excessivamente úmido da Amazônia, liga-se outra, certo mais demorada, mas de efeitos igualmente sensíveis. De fato, comparando-se a carta de William Chandless, de 1865, com a nossa, anexa a este relatório, vê-se que, conservada a orientação geral do rio, sofreram os seus trechos, parceladamente examinados, modificações profundas, ora definidas pelos circos de erosão conhecidos sob os nomes locais, peruano e brasileiro, de tipiscas e sacados,31 ora pela intensa degradação das partes côncavas onde se aprumam os barrancos coincidindo com os aterros das partes convexas onde se dilatam as praias.
Este fenômeno, largamente generalizado, dá ao Purus o caráter de rio divagante, consoante o dizer da fisiografia moderna. Favorece-o em grande parte o seu traçado característico, em meandros, que tão díspares lhe torna as distâncias itinerárias e geográficas.
De fato, dada essa disposição especial, a componente centrífuga desenvolvida pela corrente ao longo das parte côncavas, faz que o curso d'água a pouco e pouco vá obliquando para o exterior, correndo lentamente a margem contra que embate, e exagerando a amplitude de sua sinuosidade à medida que se estreitam os istmos das pequenas e numerosas penínsulas que se ligam no seu traçado caprichoso, até que uma delas se destaque e o rio, abandonando a larga volta em que derivava, deslize pelo novo leito menos curvo.
A simples inspeção de nossa planta confrontada com a de Chandless, mostra numerosos pontos em que o fato ocorreu, originando muitas das divergências secundárias que existem entre elas.
Destas erosões resulta, evidentemente, um encurtamento de traçado. Nota-se, entretanto, que ao mesmo tempo que elas se operam, se realizam em outros pontos curvaturas compensando por um alongamento do leito, a redução efetuada. Aponta-se, incisivo, um caso destes nas cercanias de Santa Rosa onde, coincidindo com o sacado formado em União, se operou em complicada curvatura uma dilatação do leito junto à confluência daquele tributário que tem na carta do notável explorador inglês o nome de Curinahá.
O confronto é sobremaneira expressivo e dispensa-nos de citar outros fatos, alongando demais esta informação.
De todos eles resulta que o Purus, ao revés do que indica uma observação ligeira, é um rio em plena evolução geológica, modificando ainda de maneira sensível o seu traçado.
Também é digno de nota a especialidade que este rio, não obstante o dilatado do seu curso, oferece, e que não se vê em outros: é o diminutíssimo número de ilhas, o que se poderia atribuir à sua formação relativamente recente.
Não são, pois, de admirar os entraves que do seu curso médio para as cabeceiras perturbam a navegação, nas vazantes. Consistem em numerosos paus e baixios de argila endurecida, que a partir de Novo Destino vão n'um crescendo até Curanja. Uns e outros são um efeito imediato da degradação das barrancas, tombando, fortemente solapadas, na quadra das enchentes. Os lanços de floresta marginal, arrastados pelas águas, acumulam-se, em geral, ao longo de todas as voltas, entrecruzando não raro as suas galhadas à maneira de abatises, entre os quais, às vezes, é difícil a travessia à mais ligeira montaria; enquanto as massas de terra desmoronadas, acumulando-se por sua vez nos trechos em que a corrente diminui, formam os denominados "salões", sobre que passam as águas extremamente rasas.
Ao mesmo tempo, destruídas as margens e rotos os istmos a que nos referimos, o rio ao tomar um outro rumo, deixa no primitivo leito abandonado, como um sinal da sua passagem, uns restos das susas águas. Formam-se, assim, os lagos tão numerosos há pouca distância das duas bandas do Purus, permanentemente renovados, já pelas chuvas fortíssimas da região, já pela comunicação que estabelecem com o rio principal, por ocasião das cheias. Estes lagos de forma anular, rodeiando uma porção de terra, são uma forma topográfica pouco vulgar e característica não só do Purus, como da maioria dos tributários da margem direita do Amazonas.
Este aspecto geral do Purus bem pouco varia desde a sua embocadura até a sua última subdivisão, do Cujar-Curiúja; e todos os seus afluentes até aquele ponto remoto, copiam a mesma disposição geral e as modificações apontadas.
Estes, como o revela rápido golpe de vista, obedecem, a partir do Acre, a uma dicotomia interessante — repartindo-se, de um modo geral, o grande rio em sucessivas forquilhas em que predominam, como mais sensíveis, a do Acre, a de Curanja e a última do Cujar-Curiúja.
Nesta última o Purus parece repartir-se exatamente pela metade, não se podendo de pronto dizer qual dos dous galhos extremos merece conservar-lhe o nome.
Duas condições apreciáveis, porém, dão a primazia ao Cujar:
1ª, a sua extensão geográfica e itinerária, realmente maior que a do Curiúja; 2ª, a direção geral que melhor do que a do outro prolonga a do rio principal. Ambos ascendem progressivamente para o divortium aquarum do Ucaiale — e esta lenta ascensão é quase insensível em todo o extenso traçado de 1.667 milhas que vai da última forquilha até ao Amazonas, onde uma diferença de nível de 265 metros aproximadamente determina um desnivelamento insensível de 1m/11.650m ou 0m, 158 por milha. Mas da confluência Cujar-Curiúja para cima, a subida acentua-se incisivamente. Assim a diferença de 154 metros de altura, da foz do Cavaljane sobre a do Cujar, indica um declive de 1m/613m ou 3 metros por milha; e a de 35 metros da confluência do Pucani sobre a última, uma queda de nível proximamente igual, por milha.32
Ora, em ambos os galhos extremos estas cotas díspares são conseguidas quase que exclusivamente mercê das numerosas corredeiras e pequenas quedas.
O regímen é de todo diferente do do Purus. Vai-se em uma intercadência invariável de estirões33 estagnados e cachoeiras pequenas pouco intervaladas.
Os rios descem, caindo por sucessivos degraus:
O Cavaljane para o Cujar com 15 pequenas cachoeiras; este para o Purus com 73; o Curiúja para a mesma confluência com 24.
Dai um caráter torrencial bem acentuado; os repiquetes formam-se rápidos, ao cair de qualquer chuva, desaparecendo às vezes com a mesma presteza, à maneira de uma onda única a descer pelas vertentes abruptas. A' nossa volta do Cavaljane fomos favorecidos por uma destas cheias instantâneas e inesperadas.
Apontados estes traços gerais, que não pormenorisamos para não nos alongarmos demais, resta-nos citar uma outra circunstância imanente à grande artéria, que rapidamente percorremos.
Referimo-nos ao traçado original da grande maioria dos seus afluentes que, sobretudo a partir do Acre, impõem, claríssima, uma tendência raro desviada, de convergirem nas cabeceiras do rio principal, como se ilhassem os próprios vales.
Assim o Acre, lançado primitivamente para o sul, volve para o ocidente n'uma deflexão fortíssima, indo abrolhar as suas nascentes perto do "Istmo de Fiscarrald"; e por um dos afluentes da margem direita do Cujar alcança-se um varadouro que o atinge em seis dias. Seguindo-se pelo Chambuiaco (Manoel Urbano, de Chandless), ao arrepio da corrente, vara-se em poucos dias para o Chandless. Do "Furo do Tarauacá" não se vai apenas para o Juruá, por intermédio do Jurupari, senão também para o Santa Rosa (Curinahá) muitas milhas a montante; e das cabeceiras deste último passa-se para as do Curanja (Curumahá) em um dia.
Nesta disposição anormalíssima vê-se bem que o vale do grande rio, estreitíssimo demais para o seu comprimento, não se abriu em virtude de movimentos orogênicos profundos, senão por uma fraca erosão na desmesurada planície amazônica, descendo as águas vagarosamente, apenas obedientes às longínquas sublevações do sul, últimos reflexos da expansão andina.
Infelizmente, a natureza da nossa missão, senão a nossa própria incompetência, não nos permitiu indagações geognósticas capazes de elucidarem melhor o assunto, de acordo com a íntima relação entre as formas topográficas e a estrutura dos terrenos. Apenas conseguimos notar como fator geológico preponderante desde a confluência, no Solimões, até à foz do Chandless o mesmo grés limonítico que sob o nome, científicamente consagrado, de Pará sandstein forma a base dos terrenos amazônicos. É a mesma rocha, já finamente granulada, já com seixos conglomerados pelo óxido de ferro — e uma disposição estratigráfica idêntica. E como ela, francamente sedimentária, se originou no seio de vastas massas de água doce, conclui-se com segurança, que o Purus até quase às suas cabeceiras, a exemplo da maioria dos tributários do Amazonas, se traduz como um resto do amplíssimo lago que na época terciária após a sublevação dos Andes, cobria tão desmedidas superfícies.
Da confluência do Cujar-Curiúja para cima, a natureza mais consistente dos terrenos, as pedras duríssimas à feição de verdadeiros quartzitos, que afloram em todos os pontos constituindo o elemento essencial das pequenas quedas em que tombam os rios — revelam uma exposição mais antiga: as margens fortemente degradadas do grande mar interior, que por tão dilatado tempo encobriu essas paragens.
Deste modo as nossas apagadas observações se ajustam às conclusões bem conhecidas da geologia clássica acerca deste aspecto especial do vale do Amazonas.
Levantamento hidrográfico — Determinação das coordenadas dos pontos principais
editarPela exposição da nossa viagem, vê-se que efetuamos o levantamento hidrográfico continuamente. Variaram, porém, os processos adotados.
A princípio, até a foz do Chandless,38 aplicaram-se o “compasso de levantamento” para os rumos, e “barquinha”, corrigida da influência contrária da corrente, para as distâncias.
Do Chandless para cima, efetuando-se a viagem em canoas, modificou-se o método adotado, com a aplicação da luneta de Lugeol, para as distâncias, e a mesma bússola para os rumos.
Verificamos, porém, desde logo, que este meio, acarretando constantes paradas em todas as inflexões do rio, era de todo contraposto ao dilatado da nossa viagem, porque no máximo nos permitiria um avançamento de cinco milhas diárias. Além disto, as manhãs em geral brumosas e os dias bruscos, dificultavam os golpes de mira, ou tornavam a sua exação contestável. Assim, forçados a abandonar este processo, apelamos para o único que nas nossas condições poderia ser adotado com êxito relativo.
Substituímos as distâncias adquiridas com a Lugeol pelas que obtínhamos mercê do tempo e das velocidades das canoas, aferidas estas últimas por numerosas e sucessivas bases medidas diretamente nas praias que íamos perlongando. Este processo, judiciosamente aplicado, deu resultados que ultrapassaram a nossa própria expectativa. Assim, não raro, trabalhando separadamente as duas comissões, tivemos ocasião de verificar a quase justaposição de alguns trechos que se desenhavam. Sobretudo merece especial referência o que vai da confluência Cujar-Curiúja à foz do Cavaljane. Aparte ligeiras divergências em latitude, os dous desenhos, peruano e brasileiro, coincidiram sem que absolutamente se pudesse notar a mais breve diferença em longitude. Citamos o caso para que se definam os cuidados que tivemos em tal trabalho, e para que se veja quão dignas de confiança devem ser as médias dos trabalhos de ambas as comissões, sem embargo do caráter expedito dos mesmos.
Além disto, como um corretivo permamente ao desvio da agulha magnética, às influências locais, aos descuidos naturais das leituras de azimutes, operávamos sempre que os céus eram propícios, observações astronômicas que, de um modo geral, dia a dia, iam amarrando os resultados parcelados e impedindo a acumulação de erros, que no fim de um longo itinerário seriam insanáveis.
Ainda mais, não satisfeitos com estas cautelas, resolvemos efetuar um contralevantamento, de baixada, que nos serviria para o esclarecimento de quaisquer dúvidas que aparecessem.
A concordância dos levantamentos de subida, porém, tornou dispensável, salvante alguns pequenos trechos, o traçado daquele contralevantamento. Não precisaríamos acrescentar que, não raro, realizamos todos os trabalhos complementares que as circunstâncias permitiam, quer relativos às larguras dos vários trechos do rio, quer à dos próprios istmos e sacados que às vezes medíamos diretamente para servirem de contraprova ao levantamento.
Nos anexos apresentamos também o resultado das medições efetuadas em vários afluentes e várias observações relativas a seus caracteres físicos mais comuns.
Uma das primeiras conclusões que tiramos deste serviço que, sem embargo das nossas instruções, efetuamos com um excesso de cuidados bem superior aos dos levantamentos ligeiros — foi a exação relativa, mas surpreendedora, da carta de William Chandless.
As considerações que fizemos acerca da evolução do Purus, mostram, evidentemente, que seria impossível uma perfeita justaposição de traçados feitos com um intervalo de 40 anos. De 1884-1865, data dos trabalhos daquele explorador, até hoje, o Purus variou consideravelmente as suas incontáveis voltas, já dilatando-as, já encurtando-as, já destruindo-as em "sacados", ou encurvando antigos "estirões" em praias recentíssimas. Em Anory, no baixo Purus, em Concordia e União, no médio, e pouco abaixo de Cocama, no Alto, o notável cientista inglês navegou sobre lugares hoje cobertos de embaúbas (ceticos) e nós atravessamos em canoas os trechos de terrenos em que ele contemplou belos recantos de floresta.
A comparação das duas plantas denuncia de pronto estas divergências. Mas podemos dizer que elas discordam porque estão certas. E quando se considera que William Chandless, avantajando-se de muito a Manoel Urbano, foi o primeiro a efetuar aquela exploração, uma das maiores da América, investindo com regiões que de Sobral ou Santa Rosa para cima eram de todo desconhecidas, não se refreia o entusiasmo e a veneração que merece o notável emissário da Real Sociedade de Geografia de Londres.
Cumprimos o dever imperioso de deixar neste relatório, escritas, as impressões que tantas vezes trocamos, a medida que íamos observando na progressão dos nossos trabalhos, o critério superior, o tino científico e, sobretudo, a admirável honestidade profissional do grande homem, um nome que ficará perpetuamente vinculado a este trecho da fisiografia americana.
O que dissemos quanto aos resultados gerais do levantamento aplica-se aos das observações para a determinação das coordenadas geográficas.
Efetuamo-las de acordo com o caráter que lhes deram as instruções, com a aplicação exclusiva dos cronômetros e do sextante.
A condição de rapidez, preponderante em nossos trabalhos, e, até certo ponto, a inconsistência dos terrenos ribeirinhos em que agíamos, tornavam de todo impossível o adotarmos outros instrumentos, como o teodolito astronômico, do qual a mesma estação, nos raros pontos em que se pudesse realizar, exigiria operações demasiado demoradas.
Além disto as aproximações do sextante, que como se sabe hoje podem ir quase aos limites da certeza, bastavam amplamente às exigências das instruções.
Restava-nos, porém, o problema muito sério do transporte do tempo através de tão dilatada distância, onde às causas de variação instrumentais, à estrutura dos cronômetros e às constantes oriundas das pressões, da temperatura e do tempo, se aditavam sem número de outros, completamente imprevistas e que iam desde os choques inopinados nos paus ou pedras do rio ao transporte incômodo e penosíssimo, por terra, perlongando os barrancos das cachoeiras.
Comparados em Manaus os cronômetros das duas partes da comissão mista, é natural que as comparações ulteriores revelassem pequenas divergências, devidas essencialmente às vicissitudes do transporte, entre as quais, para os cronômetros brasileiros, houve até a mudança repentina e forçada, através do tumulto de um naufrágio, completada pela exposição ao sol em praia desabrigada.
Assim, após vários regulamentos de resultados indecisos, a primeira comparação definitiva entre os Standarts peruano e brasileiro, na confluência Cujar-Curiúja, no dia 24 de Julho, revelou uma diferença de doze segundos que deve ser atribuida na sua maior parte àquelas vicissitudes.
Esta discordância, porém, não era de natureza a exigir um longo processo para que se lhe definissem claramente as origens e verificar-se rigorosamente quanto concorrera cada cronômetro para que ela surgisse, porque sendo as coordenadas de Chandless dignas da máxima confiança puderam, aqueles, ser, vantajosamente, referidos a elas.
Foi este, dizemo-lo com toda a segurança, o melhor auxílio que tivemos em nossos trabalhos. Desde muito, desde a confluência do Acre, notáramos a segurança rara das posições fixadas pelo grande explorador. É que ele bem aparelhado e dispondo de um tempo indefinido para os seus trabalhos, conseguira chegar aos longínquos pontos que buscara retificando as suas cuidadosas determinações cronométricas, graças a cinco longitudes absolutas em Beruri, Tapauá, Canotama, Arumáã e cercanias da confluência do Chandless — que diminuíram bastante todas as causas de erros de operações, como estas, tão delicadas e sérias. Assim, não se pode negar que os seus cronômetros, retificados por uma observação de eclipse perto do Chandless, acerca de 1450 milhas da confluência do Purus e do Solimões, forneceriam todas as longitudes dos pontos a montante do observado com mais rigor que quaisquer outros vindos daquela confluência, por maiores que fossem os cuidados no se notarem as suas marchas diárias.
É natural, portanto, que as pequenas diferenças que tivemos entre as nossas observações e as dele em Curanja e na Forquilha fizessem que lhe déssemos, como demos, a preferência uniformizando-se em tais pontos as nossas determinações. E nem de outro modo poderíamos agir desde que, dado o caráter das nossas instruções, não nos era lícito uma longa parada, aguardando ocasiões propícias em que vantajosamente se aplicassem os conhecidos processos para a determinação de longitudes absolutas.
Devemos ainda pôr em relevo a confiança que nos inspiravam os trabalhos de Chandless — a princípio nascente da coincidência quase perfeita das latitudes, que determinávamos, com as dele, e depois fortalecida por todos os demais resultados que íamos obtendo. Por isto mesmo não nos surpreende o fato de serem as cartas todas do Purus, que consultamos, uma cópia, não raro grosseira, dos trabalhos do notável geógrafo. É que eles, afinal, eram os únicos dignos de atenção.
A nossa carta, feita independentemente (à parte os pontos precitados) completa-os, em parte, nas cabeceiras, corrigindo-os, além disto, em modificações secundárias em toda a extensão do grande rio. Foi à luz das considerações anteriormente expostas que regulamos os nossos cronômetros de modo a obtermos quanto aos pontos principais observados os resultados constantes do quadro seguinte: