ROMANCE DE GOESTO ANSURES
(POSTO EM LINGUAGEM MODERNA)
No figueiral figueiredo,
Lá no figueiral entrei.
Seis donzellas encontrára,
Seis donzellas encontrei;
Para ellas caminhára,
Para ellas caminhei;
Chorando a todas achára,
A todas chorando achei;
Logo ali lhes perguntára,
Logo ali lhes perguntei,
Quem foi que ousou maltratal-as,
Tratal-as de tão má lei?
No figueiral figueiredo,
Lá no figueiral entrei.
Uma d'ellas respondera:
— Cavalleiro, não o sei...
Mal haja, mal haja a terra
Que tem máo e fraco rei,
Que se eu as armas vestira,
Por minha fé, que não sei
Se homem ousára levar-me,
Levar-me de tão má lei...
Com Deus ide cavalleiro,
Ide com Deus, que não sei
Se onde me fallaes agora
Nunca mais vos fallarei.
No figueiral figueiredo,
Lá no figueiral entrei.
Eu então lhe replicára:
— Por minha fé, não irei;
Antes olhos d'essa cara
Bem caros os comprarei;
A longas terras distantes
Só por seguir-vos me irei;
Por caminhos dasvairados
Atraz de vós andarei;
Linguas moiras de aravias
Por vós eu as fallarei:
Moiros se me apparecerem
A todos os matarei.
No figueiral figueiredo,
Lá no figueiral entrei.
N'isto o moiro que as guardára,
Perto d'ali encontrei;
Se elle bem me ameaçára,
Eu melhor o ameacei;
Um tronco secco esgalhára,
Um tronco secco esgalhei;
Com elle a todos matára,
A todos desbaratei;
As donzellas libertára,
Todas sim as libertei;
Aquella que me fallára
Com ella me casarei.
No figueiral figueiredo,
Lá no figueiral entrei.