Se quereis, bom Monarca, ter soldados

Se quereis, bom Monarca, ter soldados
Para compòr lustrosos regimentos,
Mandai desentulhar esses conventos
Em favor da preguiça edificados:

Nos Bernardos lambões, e asselvajados
Achareis mil guerreiros corpulentos;
Nos Vicentes, nos Neris, e nos Bentos
Outros tantos, não menos esforçados;

Tudo extingui, senhor: fiquem sómente
Os Franciscanos, Loios, e Torneiros,
Do Centimano asperrima semente:

Existam estes lobos carniceiros.
Para não arruinar inteiramente
Putas, pivias, cações, e alcoviteiros.

A proposito d′este soneto, ajuntaremos aqui outros de assumpto analogo, que todos teem sido em diversos tempos attribuidos a Bocage, mas que de certeza sabemos lhe não pertencem. O primeiro é de Fr. José Botelho Torrezão, frade paulista, fallecido em 1806; — o segundo de José Caetano de Figueiredo, official maior que foi da Junta do Commercio; — o terceiro de Francisco Manoel do Nascimento. Dos outros não podemos assignar ao certo os nomes de seus auctores.

[Nota de Inocêncio Francisco da Silva. Os sonetos por ele referidos podem ser conferidos nas páginas a seguir: 1) Do throno excelso nos degraus sagrados; 2) Encontrei certo Leigo franciscano; 3) Christo morreu ha mil e tantos annos; 4) Padre Frei Cosme, vossa reverencia; 5) Lingua mordaz, infame, e maldizente.]

  1. MATTOSO, Glauco. Bocage, o desboccado; Bocage, o desbancado. São Paulo: 2002. Disponível em <http://www.elsonfroes.com.br/bocage.htm. Acesso em: 28 maio 2014.