VI

Aspiração




Não ha neste soneto, como poderia julgar malevola critica, nem-uma affirmação heterodoxa sobre a transmigração das almas, mundos a fóra; mas simples devaneio poetico, em que ainda se revela entranhado affecto ao Brasil. Figuradamente assim tambem fallam os Livros Santos : «Si pozeres o teu ninho entre os astros (Abdias, 4); Job diz que o Senhor « se eleva sobre o cume das estrellas » (XXII, I 2); e pergunta o Ecclesiastes: «Quem sabe si o espirito dos filhos de Adão subirá para cima?» (III, 2I).

O verso 2.º é vasado em puros moldes biblicos: « Omnia in mensura... numero... pondere disposuisti. (Sapiencia, XI, 2I).

Abalizado sabedor do hebraico e de outros idiomas orientaes, muito se comprazia o Imperador manuseando a Biblia, e nas lições do Sancto Espirito aprendêra a resignação com que assombrou o mundo

VI

Aspiração



Deus, que os orbes regulas esplendentes
Em numero e medida ponderados,
Nelles abrigo dás aos desterrados,
Que se vão suspirosos e plangentes.

Assim, dos céos ás vastidões silentes.
Ergo os meus pobres olhos fatigados.
Indagando em que mundos apartados
Lenitivo á saudade nos consentes.

Breve, Senhor, do carcere d’argilla
Hei de evolar-me, murmurando ancioso
Timida prece : digna-te d’ouvil-a.

Põe-me ao pé do Cruzeiro majestoso,
Que no antarctico céo vivo scintilla,
Fitando sempre o meu Brasil saudoso!