V

Grande povo!




Em Maio de 1888, na cidade de Milão, o Imperador, jazendo em leito de dores, onde pouco antes quasi que exhalara o ultimo suspiro, recebeu a grata noticia de haver sido, em 13 desse mez, promulgado o decreto que aboliu a escravidão no Brasil. — Grande povo! exclamou, commovido e mal retendo as lagrymas.

Sobre este facto discorreu eloquente o Snr. Barão de Ramiz na já citada Polyanthéa, em artigo incerto a pag. 49-50 desse interessante repositorio do loyalism brasileiro.

Pouco mais de un anno depois deixava o povo que a guarnição do Rio deportasse o velho Imperador; mas este não mudou de opinião, e na apathia de 15 de Novembro nunca viu desfallecimento de qualidades varonis, mas antes um desses momentos de estupor, com que mythicos deuses feriam as victimas da fatalidade.

V

Grande povo!




Desfallecido, errante, forasteiro.
Já das sombras da morte circumdado,
Subito ouvi « Resurge! que extirpado
Foi no Brasil p’ra sempre o captiveiro.

Presto a fugir, o alento derradeiro
Volveu-me ao coração quasi parado :
« Grande povo! » exclamei, « povo adorado !
Entre os demais da terra és o primeiro ! »

Traguei depois meu calix d’amarguras;
Mas da verdade a lei não ha quem mude :
Grande povo ! eu dissera entre torturas.

Grande povo no brio e na virtude!
Sê feliz, gosa em paz as mil venturas
Que deparar-te quiz e que não pude!