SPINOZA
Gosto de ver-te, grave e solitario,
Sob o fumo de esqualida candeia,
Nas mãos a ferramenta de operario,
E na cabeça a coruscante ideia.
E emquanto o pensamento delineia
Uma philosophia, o pão diario
A tua mão a labutar grangeia
E achas na independencia o teu salario.
Sôem cá fora agitações e lutas,
Sibille o bafo asperrimo do inverno,
Tu trabalhas, tu pensas, e executas
Sobrio, tranquillo, desvellado e terno,
A lei commum, e morres, e transmutas
O suado labor no premio eterno.