A UM POETA

Longe do esteril turbilhão da rua,
Benedictino, escreve! No aconchego
Do claustro, na paciencia e no socego,
Trabalha, e teima, e lima, e soffre, e súa!

Mas que na fórma se disfarce o emprego
Do esforço; e a trama viva se construa
De tal modo, que a imagem fique nüa,
Rica mas sóbria, como um templo grego.

Não se mostre na fabrica o supplicio
Do mestre. E, natural, o effeito agrade,
Sem lembrar os andaimes do edificio:

Porque a Belleza, gemea da Verdade,
Arte pura, inimiga do artificio,
E’ a força e a graça na simplicidade.