Trigueira, que tem?
Feia, com essa cor, te imaginas?
Tu que assim fascinas
Com um só olhar dos teus!
Que ciúmes tens da alvura
Desses semblantes de neve
Ai, pobre cabeça leve!
Que te não castigue Deus!

E suspiras e murmuras...
Que mais desejavas, linda?
Pois serias tu mais linda
Se tivesses outra cor?

Trigueira, se tu soubesses
O que é ser assim trigueira
Dessa ardilosa maneira
Porque tu o sabes ser
Não virias lamentar-te
Toda sentida e chorosa
Tendo inveja à cor da rosa
Sem motivos para a Ter!

Trigueira, onde mais realça
O brilhar duns olhos pretos
Sempre úmidos, sem inquietos
Do que numa cor assim?
Onde o correr duma lágrima
Mais encantos apresenta?
E um sorriso, um só, nos tenta
Como se tentou a mim?

Trigueira! Vamos, esconde
Esse choro de criança
Ai, que falta de confiança!
Que ardilosa timidez!
Enxuga os lindos olhos
Então, não chores, trigueira
E nunca mais dessa maneira
Te manentes outra vez!

Esta obra entrou em domínio público no contexto da Lei 5988/1973, Art. 42, que esteve vigente até junho de 1998.


Caso seja uma obra publicada pela primeira vez entre 1929 e 1977 certamente não estará em domínio público nos Estados Unidos da América.