Agosto 1871.
Não queremos que acusem as Farpas de parciais! Não se dirá que foi a nossa pena, exaltada pela fantasia e pela ironia, que desenhou os contornos de uma sessão memorável na Câmara! Tomaremos a exacta narração que o Sr. Melício, correspondente, deputado, homem noticioso e linfático, dá ao Comércio do Porto, excelente folha lúgubre!
O Sr. Barjona falava quando o motim rebentou. As provocações (diz o Sr. Melício) eram acompanhadas de murros sobre as carteiras. Quadro esplêndido! Suas
Ex.as de cabelo em desalinho, gravata solta; as carteiras vergando, e, tanto quanto lhes permitia a sua qualidade de madeira, tomando biocos suplicantes; e Suas Ex.as , atirando-lhes murros, encontrões, pontapés, cachações, palmadas, estouros, todas as variedades sonoras de uma argumentação eloquente! Isto já é grande! Isto já é prodigiosamente grande!
Mas maior é o último detalhe do motim, contado na correspondência do Sr.
Melício. Diz o Sr. Melício: as POSIÇÕES POUCO ACADÉMICAS E MENOS
PARLAMENTARES (???) de alguns srs. deputados levaram o sr. presidente a
MANDAR EVACUAR A GALERIA!
Pergunta a imaginação aterrada - que posições foram essas?
Não! isto é extremamente sério! Para que o presidente de uma Câmara mande evacuar as galerias com o motivo de elas não presenciarem as posições que os deputados estão tomando - é necessário que estes se tenham permitido atitudes verdadeiramente estranhas! Dado mesmo que alguns senhores se tivessem deitado ao comprido, ou tivessem dado cambalhotas - nada disto, ainda assim, justificaria a precaução pudica do Sr. António Aires. E note-se que as galerias resistiram. É que as magnetizava um espectáculo refinadamente excepcional...
Que se passou pois?
Teria o sr. visconde de Valmor rompido no excesso de se pôr de cócoras? Mas é tão natural isso - no parlamento!
Teria o Sr. Teles de Vasconcelos montado às cavaleiras no Sr. Barjona? Mas isso que importava - entre portugueses!
Teria o Sr. Jaime Moniz, para afirmar à Câmara e ao País a moderação dos seus princípios, mostrado o interior das suas flanelas? Teria o Sr. Arrobas cortado os seus calos? Teria o Sr. Barros e Cunha, num acesso de ira, botado a língua de fora? Não! Não podiam ser somente estes actos ligeiros!
Posições académicas e pouco parlamentares!
O Sr. António Aires, pondo o seu chapéu, não se cobriu apenas, vendou-se.
Enterrou o chapéu até o pescoço, e para que S. Exª se descobrisse à porta, diante do comandante da guarda, vieram médicos que lhe extraíram o chapéu a ferros.
Que seria?!
Santo Deus! Deus clemente, piedoso e justo!
É evidente que os srs. deputados - se puseram nus!
Não, senhores!