Ia uma dessas noites quentes de verão, em que a natureza parece adormecida aos beijos ardentes do sol; em que as águas dos lagos são mornas como a brisa, que acaricia os pícaros abrasados das montanhas, e a lua se ergue vermelha, como uma chaga viva.

Uma dessa formosas noites napolitanas, em que tudo se converte em volúpia e cansaço, em que se derretem os corações e volatizam-se os beijos para vagarem pelo espaço, como um bando de mariposas sensuais.

Noite de sonhos ardentes e dores indefinidas! noite feliz para o mancebo e perigosa para a donzela!...

As mulheres estremecem ao tato dos amantes e as criancinhas torcem-se no berço, acometidas de precoce irritabilidade; o olhar transforma-se em boca que beija; o hálito em palavra que excita; a palavra em corpo que morde, afaga, queima e estreita.

Abraçam-se nos montes os pinheiros e os ciprestes nos cemitérios; entrelaçam-se flores no campo; amam-se feras nos covis; nos ares os passarinhos e os reptis no charco.

A natureza toda transforma-se numa mulher de trinta anos, de carnes brancas e palpitantes, sofre nessa noite da nevrose, tem ataques histéricos, estrebucha, grita, contorce-se e solta, de vez em quando, suspiros prolongados e gemidos voluptuosos.

E quando, pela volta da madrugada, à brisa fresca e cor-de-rosa da manhã, adormecem os membros frouxos e fatigados, levanta-se da terra um murmúrio suave e trêmulo para o céu; é a música dos beijos!