Correu assim um ano, e mais. Dona Paula ia para vinte e seis anos, como quem sobe de esplendor em esplendor, devia ser uma daquelas mulheres que os trinta aperfeiçoam, e os quarenta não conseguem enxovalhar. Que era mais natural que a admirassem? Não lhe faltavam olhos cobiçosos, nem desejos mal sofridos. Ela saboreava-os com discrição, sem corresponder a nada, durante os primeiros tempos; mas a liberdade, o número dos adoradores, a persuasão de não perder com isso, fê-la receber agradecida e lisonjeada o culto de tanta gente. Contavam-lhe muitas conversações a seu respeito; os homens idosos, mas brincalhões, repetiam-lhe na cara, ao pé das próprias mulheres, coisas que corriam fora — nomes que lhe davam, estrela do sul, rainha das salas e outros tão banais, como esses, mas igualmente sinceros.

Conhecia meia dúzia de homens que se mostravam particularmente assíduos nos lugares a que ela fosse, e mais pertinazes em dar-lhe a entender que a queriam. Dona Paula não se alterou com o número, nem com o mal; deixou-os vir. Um deles, bacharel em direito, tinha os seus trinta anos, e a mais bela de todas as cabeças masculinas do tempo. Chamava-se João Góis. Solteiro e abastado. Era parente remoto de uma senhora que vivia na Tijuca, onde eles se falaram pela primeira vez. Dona Paula conhecia-o de o ver muitas vezes, ou no teatro ou na Rua do Ouvidor. Trazia na lembrança os longos olhos dominadores que ela evitava afrontar, por medo do duelo, de que podia sair mal ferida; apenas os via por baixo das pálpebras medrosas. Na Tijuca teve de os fitar ainda que o menos possível, e viu confirmados esses seus receios. Pensou neles, entretanto, e não sonhou com outros. Havia ainda um adorador de vinte e dois anos, olhos meigos e bons, cara sem barba, um triste buço puxado e repuxado sem chegar a bigodes. Para esse era Dona Paula a primeira paixão. Esse chorava por ela, em casa, às noites, e escrevia longas cartas para lhe mandar no dia seguinte, o que não iam nunca, porque lhe faltava tudo, portador e audácia.

Não faltava audácia a João Góis, nem portadores, se lhe fossem necessários. Em breve, estavam as relações travadas entre ele e o marido. Góis não gostava de cartas, mas sujeitava-se a jogar com Xavier nas noites em que este, por acaso, não passava fora ou não tinha os seus parceiros do costume. Dona Paula viveu cheia de temor durante as primeiras semanas; tendo brincado com fogo, aterrava-a naturalmente a idéia de o ver chegar às seias. Góis, que era audaz, era também hábil, e resolveu criar primeiramente confiança. Quando esta se estabeleceu de todo, ele declarou-se, e a batalha, se foi renhida, não foi longa; a vitória acabou completa.