Voltaram à corte uma e muitas vezes, até que Xavier abandonou de todo a fazenda nas mãos do administrador, e ficou a viver aqui. Por casa, entregou a mulher a si mesma e continuou a vida de sempre. Eram já passados três anos. O costume e o decoro os prendiam; nenhum deles amava o outro. Não veio nenhum filho que pudesse suprir as lacunas do amor conjugal.
Dona Paula ia ficando cada vez mais formosa. A corte aperfeiçoou os encantos naturais. No interior não tinha necessidade de observar todo o ritual elegante nem a grande variedade da moda.
Na corte, a necessidade impunha-se, e achava na alma dela excelente disposição. Gostava de andar bem, de aparecer muito, de ir a toda parte; e não lhe faltavam amigos nem parentes que a acompanhassem e lhe satisfizessem todos os desejos. Bailes, teatros, passeios, teve tudo o que quis, não lhe negando o marido dinheiro para coisa alguma. Às vezes, estremunhado do jogo, ele respondia-lhe errado:
— O baile do Vergueiro?
— Sim; é no dia 7.
— Mas o trunfo era espadas.
— Que espadas?
— Eu tinha o rei e o quatro.
— Ora, Xavier, não falo de cartas, falo do baile do Vergueiro, no dia 7 de outubro; estamos convidados.
Não pareça demais essa confusão do homem. Naturalmente, alguma partida especial, grave, luta grande, ou pelo dinheiro ou pela honra da vitória, tomara a casa do cérebro onde nenhuma outra idéia achava alojamento. Dona Paula chegava já a rir desses desconchavos. Depois, explicava o riso, e ele ria também, e referia o motivo da trapalhada. Quando ela notava que isso mesmo o aborrecia, evitava explicações. O marido era enfadonho, longo, repisava o que dizia, e achava pequeno interesse em coisas que, para ela, não valiam nada. Já lhe não importavam horas de chegada. Ele entrava de madrugada, às vezes de manhã, às seis horas e mais. Dona Paula dormia até nove, e almoçava só. Outras vezes, o jogo era em casa; mas a casa era grande, e a sala do jogo era ao fundo. Na frente ela recebia, tocava e ria. Era convenção entre ambos, em tais casos, dizer que ele estava fora.