Versos da mocidade (Vicente de Carvalho, 1912)/Ardentias/Dona Flor

DONA FLOR

Ela é tão meiga! Em seu olhar medrozo,
Vago como os crepusculos do estio,
Treme a ternura, como sobre um rio
Treme a sombra de um bosque silenciozo.

Quando, nas alvoradas da alegria,
A sua bôca humida florece,
Naquele rosto anjelical parece
Que é primavera, e que amanhece o dia.

Um rosto de anjo, limpido, radiante...
Mas, ai! sob esse anjelico semblante
Móra e se esconde uma alma de mulher

Que a rir-se esfolha os sonhos de que vivo
— Como atirando ao vento fujitivo
As folhas sem valor de um malmequer...