Minha gente, folguem, folguem,
Que uma noite não é nada;
Se não dormires agora
Dormirás de madrugada.

O senhor dono da casa
Mande vir a aguardente,
Que senão eu vou-me embora,
Levo toda a minha gente.

Minha gente não inore
Este meu cantar baixão,
Que estou co peito serrado
Do malvado catarrão.

Senhora, minha senhora
Da minha veneração,
Cachaça custa dinheiro,
Água tem no ribeirão.

Tenho minha viola nova
Feita de pau de colher
Para mim dançar com ela,
Já que não tenho mulher.

Esta viola não é minha,
Se eu a quiser minha será;
Se eu fizer intento nela,
Meu dinheiro a pagará!

Tenho minha viola nova
Com seu buraco no meio;
Pr'a mô deste buraco
Mataram meu companheiro.

Fui no mato tirar coco,
Tirei coco de indaiá
Para quebrar no dentinho
De minha amante iaiá.

Não quero ser conde d 'Arcos,
Nem tenente-general;
Só quero me ver nos braços
De minha amante iaiá.

Seja muito bem chegada
A senhora arquiduquesa;
Inda o céu me deixou vivo
Pra gozar desta beleza.

Novos ares, novos climas
Bem longe vou respirar;
Lá mesmo serei ditoso,
Se meu bem nunca mudar.


Esta noite, meia-noite
Vi cantar um gavião,
Parecia que dizia:
- Vinde cá, meu coração.

Oh! que moça tão bonita,
Que parece meu amor,
Com seu corpinho de pena,
Seu ramalhete de flor.

Cana verde, cana seca,
Cana do canavial,
Tenho pena de te ver,
Pena de não te gozar.

Maria, minha Maria,
Minha flor de melancia,
Um suspiro que eu te dou
Te sustenta todo o dia.

Já lá vem amanhecendo,
As folhas tremem com o vento;
Meu amor que já não vem
É que está fechado dentro.

Minha Maria, o tempo corre
Perguntando à natureza,
A nossa paixão gozemos,
Que o tempo murcha a beleza.

Quem possui um bem que adora
Não tem mais que desejar;
Se ele cumpre o juramento,
Não tem mais que suspirar.

Aprendei a temperar
Que o tocar não tem ciência;
A ciência do amor
É fazer a diligência.