Doente da gota coral
editarCamila Pereira, dona viúva, moradora na Vila de Vitória, Capitania do Espírito Santo, estava um dia tão mal da cabeça, que lhe parecia perder a vida e a cabeça com dores, de modo que estavam já para lhe dar a santa unção. Mandou chamar ao padre, que lhe pôs as mãos na cabeça, e lhe disse que não morreria daquela, e lhe prometeu uma missa para o dia seguinte.
Dita a missa, tornou à casa da enferma, e lhe disse que se não agastasse que seu mal era de gota coral, que se lhe havia de ir, e não lhe tornaria mais; e assim foi porque sarou e não lhe tornou mais aquela doença.
Sara um leproso com o santo batismo
editarAchando uma vez a um índio gentio e leproso, o catequizou, e bem instruído na fé, o batizou. E com este divino lavatório foi Deus servido limpá-lo na alma e corpo, como aconteceu ao Imperador Constantino Magno, com a mesma água do santo batismo, dado pela mão do Papa São Silvestre.
Da mão escaldada
editarServia um irmão na cozinha neste Colégio da Bahia, e acertou que tirando do fogo uma tigela grande de peixe cozido que estava fervendo, se lhe entornou o caldo sobre as costas da mão direita, e lh'a queimou. Nisto passou acaso pela cozinha o Padre José, viu a mão maltratada, e tomando-a com a sua esquerda, dissimuladamente lhe fez o sinal da cruz com a direita dizendo: "ora basta, não vos doa". E ele mesmo a chegou ao fogo, com que logo sarou, e o irmão tornou a continuar com seu ofício.
Doente de quartãs
editarNeste mesmo colégio andava o Padre Francisco Fernandes, sendo ainda irmão, doente de quartãs havia muitos meses. Neste tempo chegou a festa de Nossa Senhora da Escada, a vinte e um de novembro, e iam alguns da casa a celebrar a festa daqui duas léguas, em uma Igreja do Colégio, da mesma invocação.
Encontrou o Padre José, que era provincial, com o irmão e perguntou-lhe porque não ia com os mais. Respondeu que por causa das quartãs. Disse-lhe então o padre: "ora ide, e não as torneis a trazer para casa, deixai-as lá". Foi e deu-lhe lá uma mui rija febre; vai-se então à Igreja e diante do altar da imagem da gloriosa Virgem, pede que lhe dê remédio, alegando que o Padre José lhe mandara não tornasse para o Colégio com elas. Ouviu a Senhora Mãe de Deus as orações de ambos, e o irmão tornou para casa com perfeita saúde, sem lhe tornarem mais as quartãs.
Doente de fastio
editarEstava o Padre José doente no seu cubículo, e um irmão na enfermaria muito mal de fastio. Levaram ao padre um frangão consertado, para jantar. Tomou o prato na mão, e assim como estava, o mandou ao irmão enfermo, e que lhe dissessem da sua parte que o comesse e que não tivesse mais fastio. Ouviu o recado, ajudou-se da fé e obediência, comeu o frangão, e logo começou de se achar melhor, e convalesceu em poucos dias. Tanto obrou a oração do padre, e a fé do irmão.
Do lacão
editarOutro enfermo, irmão nosso, estava mal, e também o apertava o fastio; visitou-o o Padre José e perguntou-lhe que comeria. Respondeu que comeria um pequeno de lacão; mandou o padre pedi-lo ao dispenseiro, que disse que o não havia em casa. Foi então o padre à dispensa, e de um cesto que estava pendurado com peixe assado, tomou um pedaço, levou-o ao doente, o qual o comeu, e o achou muito bom presunto.
Depois perguntou o irmão ao dispenseiro porque não lhe dera da primeira vez o lacão, que o Padre José lhe mandara dar. Foi-se o irmão dispenseiro à dispensa e trouxe uma posta de peixe, da qual o Padre José tomara o que deu ao enfermo feito lacão. E era xaréu assado.
Do menino doente
editarJoão Batista Málio, morador na vila de Santos, tinha um filho, criança de onze meses, tão doente que havia dois ou três dias que não tomava o peito da ama. Pediu ao Padre José o favorecesse com suas orações diante de Deus. Respondeu o padre que se não agastasse, que encomendasse o menino a Nossa Senhora da Conceição, que ela lhe alcançaria a saúde. Feito isto no mesmo dia, a criança começou a mamar, e sarou, tendo-o já por morto.
Do menino mudo
editarOutro menino de quatro ou cinco anos havia, na Capitania do Espírito Santo, mudo que nunca falara, por nome Estevão. Sucedeu que se fez uma grande festa na aldeia de São João, a que acudiu muita gente da vila, e também o Padre José com outros padres. Entre danças e outros jogos houve também correr o pato, e entre dois de cavalo houve diferença sobre qual deles o levara. Fizeram juiz do caso ao Padre José, o qual olhando para Estevão, lhe mandou que dissesse quem ganhara o pato. O menino, recobrando logo a fala, respondeu desembaraçadamente, dizendo: "é meu, dêem-mo, para o levar a minha mãe".
Deram-lhe o pato, que levou, juntamente com a fala restituída, de que todo o povo que presente estava, deu muitos louvores a Deus por tão grande maravilha. De crer é que tinha o Padre José de antemão visto e tratado este negócio com Deus, e alcançado esta mercê com suas orações, para glória do mesmo Senhor.
De um inchaço
editarVindo o Padre José da Capitania de São Vicente para o Colégio do Rio de Janeiro, achou ao Irmão Gonçalo Luís muito doente, com um inchaço debaixo do braço esquerdo, que por mais remédios que lhe punham não abrandava, antes se encruava mais.
Chegando o padre a ele lhe disse: "irmão, que é isso que vos dói?" E pondo-lhe a mão no inchaço, e fazendo o sinal da cruz, daí a nada por si arrebentou. Veio o médico, e sabendo o que passara, ficou atônito, e os de casa deram a Deus muitas graças.