Dom Jorge se namorava
Duma mocinha mui bela;
Mas se apanhando servido
Ousou logo de ausentar-se
Em procura doutra moça
Para com ela casar.
J uliana que disto soube,
Começou logo a chorar,
A mãe lhe perguntou:
—De que choras, minha filha?
"E' Dom Jorge, minha mãe,
Que com outra vai casar.
—Bem te disse, Juliana,
Que em homens não te fiasses;
Não era dos primeiros,
Que as mulheres enganasse.
—"Deus te salve, Juliana,
No teu sobrado assentada!
"Deus te salve, rei Dom Jorge,
No teu cavalo montado.
Ouvi dizer, rei Dom Jorge,
Que estavas para casar?
—"É verdade, Juliana,
Te vinha desenganar.
"Esperai, rei Dom Jorge,
Deixa eu subir o sobrado;
Deixa buscar um copinho
Que tenho pra ti guardado.
—"Eu lhe peço, Juliana,
Que não haja falsidade;
Olhe que somos parentes,
Prima minha da minha alma.
"Eu lhe juro por minha mãe,
Pelo Deus que nos criou,
Que rei Dom Jorge não logra
Esse novo seu amor.
—"Que me deitas, Juliana,
Neste teu copo de vinho?
Estou com as rédeas nas mãos,
Não enxergo meu rucinho?
Ai, que é do meu paizinho,
Por ele pergunto eu?
Eu morro, é de veneno
Que Juliana me deu.
—Morra, morra o meu filhinho,
Morra contrito com Deus,
Que a morte que te fizeram
Ela quem vinga sou eu.
—"Valha-me Deus do céu,
Que estou com uma grande dor;
A maior pena que levo
É não ver meu novo amor.