LXV. O OURO E OS DIAMANTES
— O nome de Minas, dado a esta parte do Brasil — disse então Carlos a Alfredo — vem da abundância de minas de ouro e diamantes que há no seu solo.
— E há muito ouro? — perguntou Alfredo.
Neste ponto da conversa, um homem de certa idade, que viajava no mesmo carro, interveio, com bondade:
— Satisfaz-me muito a curiosidade com que procuram informar-se destas cousas. Venho há muito tempo ouvindo a sua conversa, e acho muito louvável o desejo que mostram de conhecer a vida do seu país. Sou engenheiro de minas e já trabalhei muito em mineração. Em Minas há muito ouro, muito diamante, e também muito ferro que ainda é mais útil.
— E a extração do ouro é difícil? — perguntou Carlos.
— Não é difícil, mas é muito dispendiosa. É verdade que se encontra ouro à flor da terra; mas as maiores quantidades jazem no fundo das minas, misturadas com outras substâncias nas rochas, que é preciso quebrar, triturar e lavar, por meio de muitos maquinismos complicados.
— E toda a gente pode apanhar ouro? — interrogou Alfredo.
— Sim — explicou o engenheiro — toda a gente pode apanhar o ouro que aparece à flor da terra, no leito dos riachos e córregos, e muitas pessoas vivem dessa indústria. Apanham a areia dos córregos, deitam-na com água na bateia, e passam muito tempo a agitá-la, renovando a água de tempo em tempo. A bateia é uma espécie de alguidar de madeira. Com o movimento e a lavagem, o ouro pouco a pouco se vai separando da areia e depositando-se no fundo do alguidar. Mas a quantidade do precioso metal recolhido por esse processo é sempre insignificante. A grande exploração faz-se nas minas, que pertencem a companhias, dispondo de grandes capitais.
— Que bonita deve ser uma mina de ouro! — exclamou o pequeno Alfredo. — Aquilo até deve fazer mal à vista!
O engenheiro sorriu, e desenganou o menino:
— Qual! É essa a idéia que muita gente faz de uma mina de ouro; mas não há idéia mais falsa. O ouro não aparece, porque está misturado com as substâncias que constituem a rocha. Uma das minas mais importantes é a do Morro Velho, no arraial de Congonhas de Sabará. Mais de 1200 homens trabalham aí. Para ir ao fundo da mina, segue-se primeiro a pé, por uma galeria horizontal, e depois entra-se em um grande cesto, chamado caçamba, que lentamente, por meio de um jogo de rodagens e cabos de aço, leva o visitante a uma profundidade de mais de duzentas braças.
— E como é que se faz o trabalho?
— Os operários despedaçam a rocha por meio da dinamite, e trazem para cima os blocos de pedra, que são triturados e reduzidos a pó, por imenso pilões hidráulicos; depois o pó é muitas vezes lavado, e submetido a vários processos químicos, até que deles se extrai o ouro puro.
— E os diamantes? O senhor já viu como se extraem?
— Já. Já estive no Jequitinhonha, que é um dos maiores rios de Minas, e onde se têm achado muitos diamantes. Os exploradores cercam um certo pedaço de rio, isto é: desviam desse trecho as águas, por meio de processos que não vale agora a pena descrever, e descobrem o leito. Então cateiam, isto é: tiram a camada inútil de terras e areias, e encontram o cascalho miúdo, onde se acha, às vezes, o diamante bruto. Esse é o processo rudimentar. Mas em Minas e em Mato Grosso já há explorações de processo moderno, sendo as jazidas revolvidas por meio de possantes dragas.