LXVI. MATO GROSSO E GOIÁS

— Quanta riqueza há no Brasil! — exclamou Alfredo, que ouvira com a máxima atenção o que dissera o engenheiro de minas.

— Há muita! Muita! — confirmou este. — E grande parte dessa riqueza, para não dizer quase toda, ainda é desconhecida. Nós todos falamos com assombro das jazidas preciosas que há no Estado de Minas, e nem pensamos nas que existem completamente ignoradas em Mato Grosso e Goiás.

— São dois Estados muito grandes, não?

— São imenso. Mato Grosso, entre os Estados do Brasil, é o segundo em extensão territorial: a sua superfície é maior que duas vezes a superfície da França. Goiás também é gigantesco; tem quase oitocentos mil quilômetros quadrados. Infelizmente essas duas colossais porções da terra brasileira são quase desconhecidas, por falta de vias de comunicação fácil com o litoral. Quando as estradas de ferro e as linhas de navegação fluvial tiverem estabelecido essa comunicação, ninguém pode imaginar a esplêndida prosperidade que reinará ali. Felizmente, já principiou uma era progresso. Já está adiantadíssima uma estrada de ferro, — a de Madeira e Mamoré, — comunicando Mato Grosso e o Atlântico, pelo Amazonas; o Estado, por meio da Estrada de Bauru a Cuiabá, será ligado a São Paulo e Rio de Janeiro; haverá uma ligação entre Goiás e Minas Gerais, pela Estrada de Formiga a Goiás; e haverá uma navegação a vapor nos rios Paraguai, Guaporé, Juruá e Mamoré... O solo é fertilíssimo, de extraordinário vigor; e ali as pastagens serão utilizadas para uma criação de gado, capaz de abastecer grande parte do mundo.

— E há muito ouro? Muitos diamantes? — inquiriu Carlos.

— Não só ouro, não só diamantes, mas também prata, cobre, ferro, cristais, chumbo, platina, manganês muitas pedras preciosas. No período colonial, era de Mato Grosso que saía a maior parte do ouro expedido para Portugal; houve tempo em que só nos arredores de Cuiabá se extraíam mais de mil quilos de ouro em cada mês.

— E Goiás?

— Em Goiás, o solo é também opulento. Foi lá que se deram no século XVII os episódios mais comoventes das viagens de exploração. Um dos primeiros exploradores foi Bartolomeu Bueno da Silva, que chegou até o Rio Vermelho, colhendo muito ouro. Os índios deram-lhe o apelido de Anhanguera, que quer dizer: diabo velho. E o que mais deve interessar os senhores, que são ainda crianças, é que o Anhanguera, nessa expedição, levou como companheiro um filho, que apenas contava doze anos de idade...

— Era mais moço do que tu, Carlos! — exclamou Alfredo, abraçando o irmão. — Mas tu também és um herói!

E, voltando-se para o engenheiro, acrescentou com orgulho:

— Nós também já viajamos muito! Acabamos de atravessar quase todo o norte do Brasil, e por terra, e a pé!

O engenheiro sorriu, e disse:

— Felizmente, já é possível atravessar todo o Brasil, por terra, não a pé, como os bandeirantes, mas em caminho de ferro.

— Como?

— Por meio das junções das estradas de ferro; o caminho parte de Montevidéu, república do Uruguai, transpõe a fronteira em Sant’ana do Livramento, no Estado do Rio Grande, atravessa este Estado, e os de Santa Catarina, Paraná e São Paulo, e entronca-se com a Estrada de Ferro Central. A linha principal, pela qual estamos agora viajando, chega até Pirapora, no rio São Francisco. Até aí chegam também os pequenos vapores do norte, que vêm de Juazeiro.

— Esses mesmos vapores, em um dos quais viajei há algumas semanas?

— Perfeitamente. Depois do percurso fluvial até Juazeiro, iremos pela estrada de ferro até Bahia, e até o extremo norte, porque estão sendo construídas novas vias férreas destinadas a ligar todos os Estados setentrionais.