LXXII. O PARANÁ

Quando, a bordo do Santos, chegaram Carlos e Alfredo a Paranaguá, encantou-os a vista da terra. Abria-se aos seus olhos um lindo panorama: o porto, vasto e quieto, cercado de um amplo círculo de montanhas.

Alfredo estava ansioso por descer à terra:

— Vamos, vamos! Quero ficar conhecendo a capital de mais um Estado do Brasil!

— Que? — atalhou o irmão sorrindo — então Paranaguá é capital?

— É verdade! — exclamou o pequeno — que tolice a minha! Bem sei que a capital do Paraná é Curitiba...

— Curitiba fica a uns cento e dez quilômetros daqui; — explicou Rogério — de Paranaguá até a capital faz-se a viagem em caminho de ferro; são seis horas, se tanto.

Baixaram à terra, e com eles um homem alto, forte, louro, que se ofereceu para lhes mostrar a cidade. Era um alemão, que, apesar de não estar no Brasil há mais de cinco anos, já falava perfeitamente o português. Chamava-se Schumann, e era muito conversador e simpático.

Os quatro viajantes percorreram com prazer a pequena cidade, conversando. O alemão residia na capital de Santa Catarina, mas conhecia bem o Paraná.

— Não podem fazer idéia do que é a estrada de ferro que vai daqui até a Lapa e Rio Negro. É uma maravilha que honra a engenharia brasileira. Tem obras de arte admiráveis, viadutos, túneis. Em certos pontos, na serra, o trem fica suspenso sobre abismos, cuja contemplação dá vertigens. Não há talvez no mundo inteiro um cousa tão bela!

— E o Estado é muito rico? — perguntou Carlos.

— Muito rico, não é, — disse Schumann — mas é próspero, e as bases da sua prosperidade são os pinhais e o mate. O pinheiro do Paraná, araucária brasiliensis, dá uma madeira tão boa como a da Noruega: é uma árvore corpulenta, que às vezes atinge à altura de trinta e seis metros. Há aqui pinheirais admiráveis, em grandes florestas que cobrem os planaltos. Li há poucos dias, um artigo, cujo autor calcula em mais de oitenta milhões os pinheiros que formam essas florestas...

— E o mate?

— O mate do Paraná também é célebre, e é o mais saboroso. A exploração dos ervais é rendosíssima.

— Ervais?

— Chamam-se “ervais” as zonas das florestas em que abunda a erva-mate. Cortam-se as folhagens, e, depois de empilhadas, são sapecadas ou chamuscadas a fogo forte; em seguida secam, e são batidas em receptáculos de madeira, que têm o nome de canchas: separam-se, assim, dos fragmentos grosseiros as folhas, e os pecíolos, e os raminhos mais delicados. Uma vez “cancheado”, já o mate pode ser entregue ao consumo e à exportação; mas o produto da melhor qualidade ainda é submetido a processos mais demorados, em usinas, onde a planta seca é tratada por meio de pilões. O produto exporta-se em surrões, ou sacos de couro, ou então em barricas fabricadas no Estado; a fabricação das barricas é uma das grandes indústrias do Paraná.

Assim conversando e passeando, passaram os viajantes cerca de hora e meia em Paranaguá.

Voltaram para bordo. O Santos tomou de novo o rumo do sul.