LXXIII. SANTA CATARINA

Em Santa Catarina foi curta a demora do navio, e os três viajantes não baixaram à terra.

Os dois rapazes viam com prazer aproximar-se o termo da viagem, já fatigados de tanto movimento e de tantas mudanças; já não achavam encanto no que viam: só desejavam chegar, achar o aconchego da família, descansar o corpo e repousar o espírito e o coração no seio daqueles que os esperavam no Rio Grande do Sul.

Assim não lhes deu grande pesar a impossibilidade de visitar Florianópolis, a antiga Desterro, edificada na ilha de Santa Catarina, separada do continente pelo Estreito.

— Aqui, em Santa Catarina, nasceu uma grande brasileira, grande pelo seu nobre coração, pelo seu valor, e pela ternura e dedicação com que associou a sua vida à vida de um herói! — disse Rogério.

— Quem foi? — perguntou logo Alfredo.

— Anita Garibaldi, mulher do famoso cabo de guerra italiano, que além de entrar nas campanhas da unificação da Itália, também no Brasil serviu a causa da liberdade, tomando parte na revolução dos Farrapos.

— É bonita Florianópolis?

— É. Muito quieta e pitoresca. Possui lindo jardins.

Nesse momento embarcava uma família de alemães, com destino ao Rio Grande. Eram oito pessoas: pai e mãe, e seis filhos. Gente corada e forte, sadia e alegre.

— Estão vendo? — disse Rogério — o Estado de Santa Catarina tem hoje uma densa população alemã. E não só Santa Catarina, como o Paraná e o Rio Grande do Sul... Os alemães preferem para estabelecer-se o sul do Brasil, cujo clima é muito semelhante ao da Europa. Aqui há muitos... algumas cidades do Estado, como por exemplo Blumenau, são quase exclusivamente habitadas por eles e pelos seus descendentes, já brasileiros, mas ainda conservando o tipo germânico.

Quando o vapor saiu do porto, a tarde declinava. O céu tingia-se de uma cor de rosa desmaiada, com estrias de ouro pálido; e uma funda melancolia se espalhava pela face das águas calmas.

O Santos acelerou a marcha. Carlos e Alfredo, à popa, olhando o litoral que se afastava, deixavam dominar pela tristeza da hora e da paisagem.

De repente, Carlos rompeu o silêncio:

— E Juvêncio?...

Alfredo replicou, com a voz trêmula de comoção:

— É verdade! Que será feito dele? Que estará fazendo a esta hora?