A VIAGEM DE JUVÊNCIO
Na Paraíba, a demora foi curta. O navio deixou mercadorias, recebeu dois viajantes, e continuou o seu rumo.
— Tenho pena de não conhecer a Paraíba! — disse Juvêncio ao marinheiro com que se acamaradara. — É pequena, mas bonita. Há a cidade alta e baixa. As igrejas são lindas, há um grande mercado, um bom teatro, um passeio público. A parte baixa, que se chama Varadouro, é o centro comercial. A gente é muito boa, muito afável.
No dia da chegada ao Natal havia na cidade uma grande festa. Quase todos desceram. Juvêncio divertiu-se muito.
Na hora do embarque, verificou-se que três dos engajados por Gervásio Sena não voltaram. Certamente não puderam resistir às saudades, e fugiram...
Este fato irritou o contratador, que dois dias não apareceu quase.
Mas, ao chegar à Fortaleza, no Ceará, já era o mesmo homem.
— Minha terra! Minha terra! Terra da Luz! — exclamava com ênfase, — fomos nós que fizemos a abolição; fomos os primeiros a não querer escravos em terras brasileiras!
Não há propriamente porto em Fortaleza. O vapor ancora em costa aberta; a cidade espalha-se radiante e alegre, numa planície baixa. O mar rebenta forte, e muitos passageiros transportam-se em jangadas.
O contratador, que decididamente simpatizara com Juvêncio, fez questão de descer com ele:
Há aqui um demora de seis horas; quero fazer-lhe as honras da minha terra!
Desceram, e longamente passearam pela cidade, de ruas bem alinhadas, bem edificadas e calçadas; admiraram as estátuas dos generais Tibúrcio e Sampaio; foram, em bonde, ao Outeiro.
Já todos estavam afeitos à vida de bordo, e Gervásio tinha os ares de um oficial. É verdade que, depois de tantas viagens feitas por aquela costa, ele a conhecia como um verdadeiro marujo. Por isso, apontando o litoral, ia explicando tudo:
— Daqui por diante, a configuração da costa muda completamente; até aqui a linha da terra era regular, agora começam a aparecer entradas e pontas, principalmente neste trecho do Maranhão ao Pará. É um dédalo de baías, enseadas, ilhas, ilhotas, lagos, canais, que mudam de aspecto constantemente de maré a maré. As vagas são violentíssimas, e o mar invade a terra dia a dia, comendo-a. De quando em quando, surge em uma dessas ilhotas um coqueiro isolado, cujo raizame a maré vai corroendo, corroendo, até estendê-lo na costa...
A demora no Piauí foi de poucas horas. A cidade não se mostrava quase; era um dia de forte chuva. Ninguém desceu.
Gervásio, que conhecia o Piauí, elogiou a terra e o povo:
— Há bastante lavoura, e bastante indústria pastoril. A gente é ordeira, e forte, temperante, e capaz de rude labuta e duras provações, — como em geral, toda a gente do Norte. A capital, Teresina, é nova: foi fundada há pouco mais de cinqüenta anos. O porto do mar é Amarração, perto da cidade de Paraíba.