Aventuras de Hans Staden (6ª edição)/Capítulo 18

XVIII

O TERCEIRO NAVIO



OS tupinambás haviam marcado para a sua expedição contra a Bertioga o mês de agosto, tempo das tainhas. A abundancia do peixe facilitava a operação guerreira, porque não ha guerra possivel quando não ha facilidade de abastecimento.

Hans contava fugir por essa ocasião.

Ficaria na aldeia sózinho com as mulheres e facil lhe seria escapar.

Oito dias antes da expedição, porém, chegou noticia de um novo barco francês ancorado em Iteron, ou Rio de Janeiro, como diziam os portugueses. Essa noticia viera por um bote pertencente ao navio, o qual chegara até Ubatuba em procura de pimenta, macacos e papagaios. Vinha no bote um tal Jacó, que sabia a lingua dos tupinambás e o jeito de negociar com eles.

Hans insistiu com os selvagens para que o conduzissem até ao navio, onde devia estar seu irmão com os presentes esperados.

— "Não! responderam os indios. Esses franceses não são teus amigos. Vieram no bote e nem uma camisa te trouxeram".

Era bem verdade aquilo ! Mas Hans insistiu; disse que se ele chegasse até á nau os franceses lhe dariam muita coisa.

— "Tem tempo, responderam os selvagens. O navio demora-se ainda. Depois da expedição cuidaremos disso".

Enquanto o nosso Hans, na praia, aferrado ás suas esperanças, debatia com os indios, o bote de Jacó começou a afastar-se.

Na sua ansia de libertação Hans perdeu a cabeça e atirou-se ao mar, rumo ao bote. Os indios foram-lhe no encalço; um deles chegou a por-lhe a mão. O desespero, porém, redobrou as forças do fugitivo, que repeliu o indio, safou-se e, a violentas braçadas, atingiu o bote.

— Finalmente! exclamou Narizinho, comovida. Tambem já era tempo...

— Engano, minha filha; não era tempo ainda. Os franceses do bote não o deixaram entrar. Repeliram-no, alegando serem amigos daquela tribu e que se o deixassem entrar contra a vontade dos indios eles se vingariam. E o pobre Hans teve de voltar para terra...

— Que horror!

— Os indios, que já o supunham perdido, começaram a gritar, alegremente:

— "Ele volta! Ele não fugiu !"

Hans, ao pisar na praia, mostrou-se agastado.

— Julgaveis então que eu pretendia fugir? Fui ao bote unicamente para dizer aos meus patricios que viessem buscar-me depois da guerra e que trouxessem para vocês muitas coisas bonitas.

— Sim, senhora ! exclamou Pedrinho. Esse alemão era das arabias ! Conseguiu mais uma vez lograr os pobres indios...

— Lográ-los, confirmou dona Benta, e agradá-los. Os indios ficaram contentissimos com o seu gesto e passaram a tratá-lo ainda melhor.

Esta obra entrou em domínio público pela lei 9610 de 1998, Título III, Art. 41.


Caso seja uma obra publicada pela primeira vez entre 1929 e 1977 certamente não estará em domínio público nos Estados Unidos da América.