Contos Tradicionaes do Povo Portuguez/A raposa no gallinheiro



247. A RAPOSA NO GALLINHEIRO

De uma vez uma raposa apanhou um buraquinho n’um gallinheiro, entrou para dentro fazendo-se muito esguia, e depois que se viu lá, comeu gallinhas á farta.

Quando foi para sahir estava com a barriga muito cheia, e por mais que fez não pôde passar pelo buraco. Viu-se perdida, porque já vinha amanhecendo. Por fim teve uma lembrança. Fingiu-se morta.

De manhã veiu o lavrador e viu-a:

— Cá está ella. E que estrago que ella me fez!

Vae para lhe dar pancadas e matal-a, mas vê-a hirta, com a lingua atravessada nos dentes e os olhos envidraçados:

— Poupaste-me o trabalho; morreste arrebentada. Foi bôo.

E pega-lhe pelas pernas e atira-a para o meio da horta para a enterrar. A raposa assim que se viu fóra do gallinheiro, pernas para que te quero! botou a fugir pelos campos fóra e fez do rabo bandeira. O lavrador deu a cardada ao dianho, e jurou que nunca mais se fiaria em raposas.

(Airão.)