Correspondência ativa de Euclides da Cunha em 1901

S. José do Rio Pardo, 22 de fevereiro de 1901

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Alberto Sarmento, saúdo-te desejando muitas felicidades e pedindo que me recomendes a toda a tua família.

Recebi a tua carta em S. Paulo, na véspera de minha partida para cá ― de sorte que somente agora posso respondê-la.

Realmente tenho a aspiração de uma vida tranqüila, de todo resumida na convivência dos livros, de modo que o teu convite recebi-o com satisfação real.

Acontece, porém, o seguinte: em S. Paulo alguns amigos, lentes da Politécnica, manifestaram-me o desejo que eu entrasse para ela. É uma resolução vaga ainda, adstrita a muitas alternativas. De sorte que sem a abandonar não deixo de lado também a que visa um lugar no Ginásio. Há, além disto, mais o seguinte: somente em fins de abrilterminará a minha fatigante empresa aqui; e somente então poderei tomar um outro rumo.

Exposta, assim, claramente, a situação, peço-te que me esclareças sobre a época do concurso etc.

Senti que o digno amigo, na sua carta, não me desse notícias suas e dos parentes, um dos quais, o Gambeta, é para mim uma das mais belas recordações do meu passado que já se vai distanciando. Espero que em próxima carta me dê notícias mais detalhadas.

Quando for a S. Paulo ficarei aí em Campinas, para abraçá-lo e conversarmos.

Sem mais recomende a todos quem é velho amº. e admor.

Euclides da Cunha

S. José do Rio Pardo, 7 de março de 1901

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Alberto Sarmento

Saúdo-te. Respondo a tua carta de 5 do corrente, agradecendo-te o interesse que manifestas pela minha entrada para o Ginásio daí. Infelizmente, conforme disse em carta anterior, nenhuma resolução posso tomar ainda. A braços com a minha tarefa, aqui, somente depois de ultimá-la, direi positivamente alguma coisa a respeito. Quando for a S. Paulo aí conversarei e conversaremos melhor. Prevenir-te-ei com antecedência. Antes disto, porém, caso me seja possível resolver sobre o assunto, te escreverei. De qualquer modo, porém, que se resolva a questão ficar-te-á bastante agradecido por tão alta prova de estima quem é teu correligionário e amº.

Euclides da Cunha

S. José do Rio Pardo, 13 de março de 1901

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Alberto Sarmento

Cumprimento-te desejando felicidades. Lendo a notícia de minha inscrição para o concurso do Ginásio, peço-te que certifiques a informação: sou apenas candidato a candidato, nada podendo resolver por enquanto. Às voltas, ainda, com a minha rude missão, espero que ela termine ― o que sucederá antes de dois meses ― para resolver qualquer coisa. Sem mais, peço-te que me recomendes a toda a tua família e recebe um abraço do amº. obro. e admor.

Euclides da Cunha

S. José do Rio Pardo, 17 de maio de 1901

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Sr. presidente e demais membros da Câmara Municipal de São José do Rio Pardo.

Tenho a honra de convidar-vos para a inauguração da ponte metálica, amanhã, 18, à uma da tarde.

Saúde e fraternidade.

Euclides da Cunha, engenheiro.

[Timbre:] Superintendência de Obras Públicas ― no 46

S. Paulo, 26 de maio de 1901

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Tio José [Pimenta da Cunha]

Em sua carta o sr. se refere à carreira do Arnaldo, ameaçada pelo próximo fechamento da Escola de Engenharia, daí. Caso isso aconteça o sr. não precisa consultar-nos; mande-o para cá porque saberemos cumprir o nosso dever de parentes e amigos. Estou certo de que o Arnaldo tem as qualidades essenciais da nossa família e por isto convencido de que terminará aqui o curso corretamente e dignamente, dispondo-se depois com energia para a luta pela vida. Previno-lhe, porém, que a nossa carreira é, hoje, a mais infeliz do Brasil. Num país pobre, o engenheiro é a primeira vítima, o primeiro atingido pelo golpe da pobreza geral. Por isto, se o Arnaldo persiste em se formar, que se vá armando desde já de coragem, paciência e disposição para a batalha. Ofereço-lhe, com a máxima espontaneidade, o nada do meu préstimo e, como tenho sido também um lutador, a minha experiência nos viveres da carreira.

Euclides

Aurora, 15 de julho de 1901

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Escobar

Anteontem te escrevi ― dando notícias minhas e respondendo a tua carta de 6. Escrevo-te hoje novamente ― antes de partir para S. José do Rio Preto (Imagina!…) em longa travessia. O fim desta carta é este: estou com vontade de ir uma vez para S. Carlos, porque aqui em casa as sucessivas viagens vão se tornando penosas. Por isto peço-te para despachares, com frete a pagar, a escrivaninha para S. Carlos. Imponho, porém, a condição de me mandares logo a nota de despesas com o transporte. Quando voltar, daqui a oito dias, te escreverei de novo. Lembranças aos amigos do velho companheiro

Euclides

P.S. ― Podes mandar o conhecimento para aqui ― Aurora ― porque enviá-lo-ás a S. Carlos, ao Otaviano, que providenciará.

Euclides

S. Carlos, 30 de novembro de 1901

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Escobar

Saúdo-te.

Depois de amanhã, 2, seguirei para a sede de meu novo distrito, Guaratinguetá.

Sentindo, por um lado deixar esta cidade, por outro lucro porque lá estarei entre S. Paulo e o Rio. Preciso dizer-te que nada influí para a transferência. Dava-me bem aqui. Tornando-se, porém, preciso transferir o chefe do 2o (politicagem etc.) consultou-me o dr. Cândido Rodrigues se eu aceitava aquele distrito. Aquiesci, porque realmente ele é melhor.

De lá te escreverei.

Agora um pedido: sei, por informações que daí têm vindo, que o Mateus será despedido, com a próxima contradança municipal.

Não sei que partido vencerá na eleição. Em todo caso como se não trata de uma questão partidária, mas de um compromisso que comigo tomou a parte sã de S. José do Rio Pardo, de todos os matizes ― peço-te lembrar a ela ― na ocasião oportuna, aquele. Estou certo de que farás tudo no sentido de ser mantido o velho trabalhador, que ali está quase como uma relíquia, lembrando dias sucessivos de uma luta de três anos. Peço-te, por isto, falares em meu nome ― à parte todas as distinções de partido ― aos coronéis José Leopoldino e Honório Dias e a todos os influentes.

Fico absolutamente convencido de que o meu pedido não será em vão.

De Guaratinguetá escreverei mais longamente.

Creia sempre no

Euclides da Cunha

S. Paulo, 4 de dezembro de 1901

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Escobar

Felicidades. Recomenda-me à Exma. senhora. ― Recebi no dia de partir de S. Carlos o teu cartão. Seguirei breve para Guaratinguetá. De lá te escreverei então mais longamente. Manda-me para lá o livro a que te referiste. ― E se acaso tiveres de ir ao Rio, previne-me com antecedência de uns 8 dias porque seguiremos juntos. ― Adeus. Lembranças a todos, e creia no amº. e admor.

Euclides

Lorena, 25 de dezembro de 1901

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Meu caro Escobar

Saúdo-te.

Respondo a tua carta de 23 agradavelmente recebida neste quieto remanso de Lorena ― onde está armada a minha tenda, provisória sempre. E não te preciso dizer que a li com profundas saudades do excelente companheiro das muitas horas do humorismo triste aí nesse S. José que nunca esqueço. Contra o que esperava, porém, esse sócio no desfilerar a talhos de ironia o nosso reles mundozinho político ― surge-me chefe! E chefe derrotado, afirma, esquecendo-se de que cai numa redundância tremenda, porque vencidos somos nós todos. Neste país não há mais vitórias… Derrota e esborrachamento em toda a linha, de Cucuí à Lagoa dos Patos! Felizmente nas entrelinhas da tua carta vejo-te o mesmo ― o mesmo fino psicólogo, ligeiramente ferino e sutil, incapaz de se enlear nos fiapos das preocupações eleitorais. Ainda bem.

Porque afinal, és como eu, um dissidente. Dissentimos, antes da cisão, de tudo isto ― e nenhum de nós se pode escravizar a uma bandeira, porque a nossa oposição tem motivos superiores aos considerados vulgares dos manifestozinhos que por aí expluem.

Não estamos em campos opostos, como dizem. E a razão é que não és homem para romper com uma solidariedade espiritual, dominante, naturalmente, sobre quaisquer outras ordens de idéias. E se como eu, pensas que somos desventurados […] numa farsa lastimavelmente triste; e julgar como eu julgo, que este país é organicamente inviável; e se, comigo chegaste ― rigorosamente, como no final de um teorema ― à conclusão desanimadora de que chamamos política a uma grande conspiração contra o caráter nacional ― se tudo isto é exato, estamos ainda formados, juntos, na mesma linha avançada e superior dos céticos que ao menos não terão desapontamentos ou desilusões.

Mas… nem sei por onde vou escorregando nesse extravagar terrivelmente metafísico. É bom parar.

Falemos de outra coisa. Estive no Rio. E lá deixei entregue ao Laemmert, os meus Sertões ― título que dei ao livro que aí te li em parte. O contrato que fiz, não precisava dizer, foi desvantajoso ― embora levasse à presença daqueles honrados saxônios um fiador de alto coturno, José Veríssimo ― de quem sou hoje devedor, pela extraordinária gentileza com que me tratou. Subordinei-me a todas as cláusulas leoninas que me impuseram, e entre elas a de dividir com eles ― irmamente pela metade, os lucros da publicação ― e isto ainda depois que a venda os indenizasse do custo da impressão. Aceitei. No entanto me garantiram no Rio que ainda fiz bom negócio ― porque hoje só há um animal a quem o livreiro teme, o escritor! Por uma das cláusulas, sairá à luz, em fins de abril do ano vindouro. Já vês que os pobres jagunços […], afinal, que dessem a palavra ao seu […] advogado diante da Histtória. E este papel satisfaz inteiramente a minha vaidade.

Chego infelizmente ao fim do papel. Termino por isto, esta, pedindo-te que nos recomendes […] sra. e família. Abraça também ao Álvaro e Jovino […] creia sempre no velho amigo

Euclides

[P.S. ―] […] está o José Augusto. Conte-lhe o contrato […] está de pé o compromisso que com ele fiz […] logo que me certificar de que aí está. […] Mateus na ponte. Obrigado.

Euclides