BUDA (Sidarta, Hinduísmo, Vedas, Brahma, Gandhi)
Evitar o Mal, desenvolver a integridade, purificar a mente:
Eis a lição de Buda.
O verso em epígrafe encontra-se no Dhammapada, o livro sagrado mais famoso da doutrina budista, que sucedeu aos antigos Upanishadas, a antiga doutrina védica. Como Cristo veio separar o Antigo do Velho Testamento da religião judaica, assim Buda anteriormente acrescentara uma nova mensagem ao velho Hinduísmo. Gautama viveu na Índia entre 560 e 480 a.C. Ainda jovem, deixou o palácio de seu pai para meditar na floresta. Após atingir o estado de iluminação (bodhi), passou a chamar-se "Buda", dando origem a uma religião que se espalhou pelo Oriente todo. Entre outros apelidos, foi chamado também de Sidarta, "aquele que atingiu sua meta". É com o nome de Sidarta que o escritor alemão Hermann Hesse apresenta a biografia romanceada e os pensamentos de Buda. A essência do Budismo é comparável à concepção do pantarrei ("tudo flui") do filósofo pré-socrático Heráclito, que viveu aproximadamente na mesma época, mas na Grécia. Para Buda não existe nada de absoluto, de indestrutível, de metafísico. O que rege o mundo é o sansara, o ciclo do nascimento, crescimento e morte. Cada qual nasce com o seu karma, a marca da conseqüência das ações: a lei de que todos os atos voltam para as pessoas que os cometeram, pois colhemos o que plantamos. É preciso, portanto, lutar contra o karma com o fim de interromper o samsara, pois só com o término da sucessão de renascimentos o homem pode atingir o nirvana, que é a libertação do sofrimento e a aquisição do estado de êxtase pela iluminação da mente (bodhi). Os estudiosos distinguem várias ramificações do Budismo no espaço e no tempo:
- Budismo indiano: HINDUÍSMO.
O Budismo nasceu como sobreposição à antiga religião indiana, chamada "Hinduísmo", do sânscrito shindu, nome do adepto do Sanâtana Dharma, a "Lei cósmica universal", que não tem origem, cujo texto fundamental é o livro de Os Vedas, o conjunto das Escrituras Sagradas de várias religiões da Índia (vedismo, bramanismo, hinduísmo), correspondente à Bíblia dos judeus, católicos e protestantes e ao Corão das várias setas islâmicas. A "revelação" divina está consagrada num volumoso corpo de textos sânscritos, que era a língua dos invasores arianos, compilados entre 2000 e 600 a.C., após uma longa tradição oral. O Vedismo constitui a mais antiga e mais rica literatura indo-européia, que contém crenças, mitos, ritos, costumes, organização social do povo hindu. Os adeptos do Hinduísmo acreditam que Os Vedas foram ditados por Bramha, o "Criador" (a palavra brahman, em sânscrito significa "O Absoluto", a totalidade), que, junto com Vishnu, o "Conservador", e Shiva, o "Destruidor", constituem a Trindade da religião hindu. O Hinduísmo, portanto, é a religião dos indianos que acreditam nos ensinamentos que se encontram em Os Vedas, o conjunto dos Livros Sagrados, escritos sob a inspiração de Brama, o deus-criador, conforme a antiga crença dos invasores arianos. Os textos falam de uma ordem cósmica (dharma), que sustenta o equilíbrio entre as forças do bem (deuses) e as forças do mal (demônios). Os rituais representam e estimulam a conservação desse equilíbrio, respeitando as castas, estando o brâmane, o sacerdote, no topo da escala social. O núcleo da antiga religião hindu foi reinterpretado com o advento do Budismo, no séc. VI a.C. A concepção metafísica da crença na transmigração da alma de um corpo para outra tenta justificar a ordem existente e a diferença de classes sociais em função dos méritos e dos erros nas vidas anteriores. Estava aberto o caminho para a busca da salvação, libertando-se dos ciclos de renascimentos. O ideal do sacrifício e da renúncia permanece como a base do hodierno Hinduísmo. O ensinamento de Buda pode ser resumido nesta sua expressão:
Logo começaram a nascer várias escolas antagônicas, esfacelando os primitivos ensinamentos do Mestre. Seu apogeu deu-se durante o reinado de Asoka, no séc. III a.C., quando o Budismo adquiriu o status de religião universal com intenção missionária. Mas sua expansão pelo mundo deu origem a várias seitas. O Budismo indiano "reformado" atingiu o apogeu na época da dinastia Gupta, durante os séc. IV e V d.C. Posteriormente, pela sua fragmentação, pela renovação do primitivo Hinduísmo com espírito nacionalista e pela expansão do Islamismo (→ Maomé), essa facção de Budismo pouco progrediu fora da Índia.
Figura mundialmente famosa foi Mahatma (a "Grande Alma") Gandhi (Porbandar 1869 – Déli 1948), que lutou a vida toda e pacificamente para defender a independência, a religião e as tradições hindus contra o domínio da Inglaterra. A sua obra A Autonomia da Índia (1909) é um libelo contra o materialismo da civilização ocidental e contra qualquer tipo de violência. Gandhi acreditava que os graves conflitos internos do seu país podiam ser resolvidos com penitência, jejum e preces. Por isso era motivo de irritação para muitos hindus que desejavam o confronto armado contra os que apregoavam o credo muçulmano e contra os invasores ingleses. Um ano antes da sua morte por assassinato político, o subcontinente indiano conseguiu a independência, dividido em dois Estados: a União Indiana hindu e o Paquistão muçulmano, duas comunidades que vivem, até hoje, em constantes lutas pelo predomínio étnico e religioso. A liderança do movimento nacional foi exercida por mais duas figuras ilustres na história indiana do séc. XX, J. Nerhu e Indira Gandhi. De Mahatma Gandhi, alguns pensamentos se tornaram antológicos:
Aquele que, pela vontade, dominou os sentidos, é o mais importante dos homens.
O caminho da paz é o caminho da verdade.
Ser verdadeiro é ainda mais importante do que ser pacífico.
A verdadeira riqueza do homem é o bem que ele faz a seus semelhantes
- Budismo chinês → Confúcio
- Budismo japonês (Xintoísmo, Zen): introduzido no Japão, aos poucos, a partir do séc. VI a.C., o Budismo tornou-se religião de Estado, apresentando um rígido formalismo ritualístico. Na sua evolução, passou de uma fase elitista, cultivado apenas por monges e letrados, para um período (do séc. VIII ao XII) de sincretismo, misturando-se especialmente com o Xintoísmo, a primitiva religião japonesa, onde os deuses, como as divindades do politeísmo greco-romano, são personificações das forças naturais. A partir do séc. XVII, o antigo Xintoísmo começou a predominar sobre o Budismo, considerado religião estrangeira, até que, no ano de 1868, o governo Meiji separou oficialmente o Xintoísmo das outras religiões, declarando-a religião de Estado. O Xintoísmo passou a cultivar a adoração do Imperador-Deus, sendo o suporte para a implantação do culto à nacionalidade japonesa. Daí ao incentivo do racismo o passou foi fácil: junto com o Nazismo alemão e o Fascismo italiano, formou-se a Tríplice Aliança, o eixo Roma-Berlim-Tókio, que provocou a II Guerra Mundial (→ Marte). Com a derrota, o povo japonês voltou ao culto das seitas do Xintoísmo tradicional e do Budismo Zen (do chinês chan = "meditação"). O movimento "zen" marca um budismo tipicamente japonês, que começou no período Kamakura (do séc. XII ao XIV) e criou um tipo ideal de herói, personificado nos samurais.
- Budismo tibetano: a região do Tibet cultivou um budismo tântrico, chamado de "Lamaísmo", de blama ("ser superior"). É chamado de "Lama" o monge tibetano budista, sendo o DALAI-LAMA o "grande lama". Após a anexação do Tibet à República Popular da China, em 1959, o budismo tibetano perdeu seu poder político-religioso, passando a persistir apenas em pequenas comunidades do Nepal e de outras regiões da Índia. De "tantra", palavra sânscrita que significa teia, trama, livro sagrado, o Tantrismo resulta de uma síntese de várias religiões orientais, especialmente de Hinduísmo e Budismo tardio, preocupado mais com a prática do que com a teoria. Sua essência reside na busca de uma identificação entre o natural e o sobrenatural, mediante exercícios físicos e psicológicos, praticados pela ioga. O que caracteriza o tantrismo é o estímulo da sexualidade através de massagens eróticas em lugares estratégicos do corpo, fazendo demorar o orgasmo por horas.