CRÔNICA (policial, social, política, artística: a narrativa do dia-a-dia)

Do grego Krónos, que significa "tempo", a crônica é o registro de acontecimentos num tempo e num espaço determinados. Em primeiro lugar, é preciso distinguir a crônica científica da crônica literária. No primeiro caso, ela não pode ser considerada como obra de arte. Pertence a essa categoria a crônica histórica, que é uma lista de fatos arranjados conforme a ordem linear do tempo; a crônica policial, que registra a ocorrência de atos criminosos; a crônica social, que põe em evidência a vida das pessoas ilustres; a crônica esportiva, que comenta as disputas de tênis, de futebol, de corridas automobilísticas etc.; a crônica de arte, que apresenta a crítica de eventos culturais (cinema, pintura, música, teatro etc.). Tais cronistas, geralmente formados por faculdades de história, de jornalismo ou de comunicação, são profissionais que possuem um saber específico e usam uma metodologia científica em seu trabalho cotidiano. Diferentemente, a crônica literária é produzida por poetas e ficcionistas que, embora possam apoiar-se em fatos acontecidos, transformam a realidade do dia-a-dia pela força criadora da fantasia. Daí decorre que suas crônicas são ou poemas em prosa ou pequenos contos, dependendo do pendor do autor para o gênero lírico ou narrativo. De um modo geral, a crônica pode ser considerada como a mais curta forma de narrativa literária. Especialmente no Brasil, o gênero "crônica" foi cultivado pelos melhores poetas (Carlos Drummond de Andrade, entre outros) e prosadores (Machado de Assis, por exemplo). Há, inclusive, escritores que se especializaram nessa forma sucinta de narratividade, sendo conhecidos principalmente como cronistas: Rubem Braga, Paulo Mendes Campos, Fernando Sabino, Raquel de Queirós e tantos outros. Evidentemente, uma crônica atinge o nível de arte literária somente quando consegue superar os limites da transitoriedade própria da notícia cotidiana, colhendo o universal dentro do particular. Um bom exemplo nos é dado por Manuel Bandeira: POEMA TIRADO DE UMA NOTICIA DE JORNAL

JOÃO GOSTOSO era carregador de feira livre
e morava no morro da Babilônia num barracão sem número.
Uma noite ele chegou no bar Vinte de Novembro
Bebeu
Cantou
Dançou
Depois se atirou na Lagoa Rodrigo de Freitas
e morreu afogado.