SATÃ (Lúcifer, o mito da rebeldia contra Deus, demonismo) → Prometeu
Do hebraico Haschatan, que significa "inimigo", "adversário", Satã é o nome bíblico do chefe dos demônios, correspondente ao latino Lúcifer (de lux = luz + ferre = carregar), que chefiou o coro dos anjos rebeldes e, pelo pecado de orgulho por querer igualar-se a Deus, foi punido, sendo jogado nas profundezas do Inferno. O filósofo grego Platão fala da existência de um daimonion, um espírito intermediário entre a divindade e a humanidade, uma espécie de "gênio", apreensível na psique de homens ilustres. Além de Satã e Lúcifer, é designado, no imaginário popular, por outros nomes (Satanás, Belzebu, Demo, Diabo, Demônio) e apelidos (capeta, tinhoso, diacho, cão, maligno, coisa-ruim etc.). Evidentemente, por ser um mito, sua existência é apenas uma hipótese, sem sustentação histórica ou lógica. A configuração mais tradicional o representa com um corpo gigantesco, que cai do céu rumo ao inferno, com serpentes enroscadas na vasta cabeleira, olhos faiscantes, asas negras e garras cumpridas nas mãos e nos pés. Este arquétipo demoníaco se fixou na fantasia dos homens Idade Média, em oposição à figura divina de Cristo, o Filho de Deus. Na época do Romantismo, Byron e outros poetas dedicaram um culto particular ao "Belo Tenebroso", levados pela paixão pelo fantástico e pelo esotérico. A voga dos romans noirs mostra apenas uma variante das múltiplas facetas do demonismo, o principal ingrediente de combinações mágicas, onde intervêm bruxarias, licantropia, possessões, pactos diabólicos. Doenças ou estados psíquicos, que hoje são explicados pela ciência e tratados com remédios, como a epilepsia, por exemplo, tempos atrás eram consideradas obras do demo. Ainda hoje, o exorcismo é uma prática religiosa que tem o fim de expulsar algum demônio que estaria possuindo o corpo de um cristão. A obra romântica mais famosa, onde é tratado o tema da venda da alma ao demônio, que aparece com o nome de Mefistófeles, é o drama Fausto, de Goethe. Na época modernista, o herói da obra de Jean-Paul Sartre, O Diabo e o bom Deus, estupra freiras, pilha sacristias, põe fogo nas igrejas, chegando-se à conclusão de que é mais fácil, porque mais natural, fazer o mal do que o bem. Georges Bernanos, na obra Sob o sol de Satã, explora o tema da vida humana dominada pelo sopro onipresente do espírito do mal. Hoje em dia, Satã se configura como símbolo do orgulho e da prepotência do mais forte, que tenta escravizar econômica e culturalmente seus semelhantes, pondo em risca até a sobrevivência da humanidade, ameaçada pelas armas nucleares, e, ao mesmo tempo, como encarnação da revolta e da vingança do mais fraco, que recorre ao terrorismo como única arma para sua auto-afirmação.