Discurso de Tomada de Posse do Presidente Óscar Carmona (1928)

Meus senhores, O movimento militar do 28 de Maio, executado com admirável e patriótica decisão pelo glorioso Exército português de terra e mar, numa explosão unânime de revolta contra erros inveterados da governação do Estado, traduziu à evidência os sentimentos e a vontade soberana da Nação rudemente experimentada, desde longe, por vicissitudes funestas e desilusões bem amargas. Dois anos volvidos sobre a memorável data histórica, e postos em prática, através de circunstâncias aspérrimas, novos métodos e processos administrativos, caracterizados por uma honestidade irrepreensível e pela abnegação sem limites que à Pátria devemos todos nas horas de má fortuna, é uma grande consolação verificar como o povo – este bom e generoso povo da nossa terra, incarnação viva das virtudes e do génio imortal da Raça – chamado a exprimir em sufrágio direto e livre o seu juízo sobre o uso que o Governo da Ditadura tem feito da plenitude do poder, consagra solenemente, pela votação mais retumbante que ainda se fez em Portugal, não o valor muito obscuro do Presidente da República que, neste momento, se investe no exercício da sua magistratura, mas antes e sobretudo o próprio pensamento de reabilitação nacional, que eu, modestamente, sou obrigado a personificar como sei e como posso. É cedo para julgar os homens e os acontecimentos. Dessa delicada missão se encarregará a História, algum dia. Mas, se o primeiro e mais grato dos meus deveres, nesta hora, é saudar toda a família portuguesa, sem restrições nem reservas, patenteando eterno reconhecimento eterno aos meus concidadãos que me honraram com a confiança do seu voto, do qual procurarei ser digno, julgo também oportuno afirmar a admiração de que me sinto possuído por todos os meus dedicados cooperadores, que, fazendo prova de um alto espírito de sacrifício, têm prestado relevantes e desinteressados serviços ao País, quer na metrópole, quer nas colónias, sendo para destacar a notável ação das comissões administrativas municipais, na faina nunca assaz louvada de reconstituírem a vida provincial, lamentavelmente decaída das suas antigas e preciosas tradições. Esforçada tem sido a ação do Ministério a que presidi. É natural que haja nela erros cometidos, inerentes à experiência contingente e à facilidade da inteligência. Mas é de vulto a sua tarefa já cumprida, na preocupação absorvente de restabelecer sem violência a ordem nas ruas e nos espíritos, condição primeira de todo o programa de reconstituição em perspetiva; de reconquistar o crédito financeiro, saldando compromissos importantes no estrangeiro; de acalmar paixões sectárias, distribuindo justiça a uns e chamando outros, qualquer que seja o seu credo político, filosófico ou religioso, a colaborar com as suas ideias e o seu patriotismo na redenção da nossa Terra, que só pelo trabalho e pela virtude poderá alcançar tranquilamente o seu antigo prestígio. Que o Governo da Ditadura vai em boa estrada, prova-se bem pelo testemunho de repetidas demonstrações de apreço e consideração diplomática que lhe têm sido prodigalizadas pela Inglaterra, nossa fiel aliada, pelo Brasil e pela Espanha, nações amigas, duma amizade muito leal, às quais nos prendem fortes vínculos de raça, e afinidades históricas que não é lícito esquecer, e, de modo geral, por todas as demais nações entre nós acreditadas. Meus senhores, Nada contribuí com ambições que nunca tive para ascender a esta posição, que considero bem excessiva para a pobreza dos meus méritos. Soldado, fui sempre escravo do Dever e da Honra; jurando defender até à última gota do meu sangue, se preciso for, a Pátria e a República, que hoje me são confiadas, dou por penhor do meu juramento a coerência de todas as ações da minha vida; e só peço a Deus que, se algum prémio merece a minha dedicação à causa da Pátria, me dê a felicidade de ver reconciliada, em breve, numa perfeita unidade moral, toda a Família portuguesa. É a minha suprema aspiração.