À ANGELINA.


O que te diz, dôce amiga,
O que te diz essa estrella,
Que em tuas longas vigilias
Sempre te ri, meiga e bella?

Essa estrella que, mimosa,
No firmamento fulgura;
Em que fitas meigos olhos,
Repassados de ternura?

Que atravéz de claro vidro
Nas insomnias te apparece,
Qual companheira extremosa,
Que de ti jamais se esquece?

Vem as lembranças queridas
Do passado te avivar?
Ou as venturas, que sonhas,
Te promette realisar?

Si assim é, porque tão triste
A contemplas, suspirando,
E de Ophir liquidas per'las
'Stão teus olhos distillando?

Acaso não acreditas
No qu'essa estrella te diz?!
Tão bella, tão virtuosa,
Receias ser infeliz?

Ah! receias que te engane
A companheira mimosa,
Que em tuas longas vigilias
Sempre te ri carinhosa?!

Que, com dolosos protestos
Ella te queira illudir?
Que, fraudulenta, procure
De chimeras te nutrir?!

Desterra esses vãos temores;
Vê como te olha enlevada;
Confia na mensageira
A ti por Deus enviada.

E porque has de em tu'alma
Aninhar cruel suspeita?
Reflectida n essa estrella
Não sabes quanto és perfeita?

Havia o Senhor crear-te,
Adrede, gentil e pura,
Para que fosse a desgraça
Partilha da formosura?

Não o creias, não o temas;
Deus, que te fez tão formosa,
Quer, Angelina, que sejas
Quanto bella, venturosa.

Deixa chorar seu destino,
Quem não tem, como tu tens,
Uma estrella, que, luzindo,
Lhe vaticine mil bens;

Quem o seu astro querido
No céu não póde avistar,
Senão coberto de nuvens,
Que o privam de fulgurar;

Quem do passado só guarda
Recordação, que o lacera;
Quem aborrece o presente;
Quem do porvir nada espera.

Tu, porem, anjo, acredita
No qu'essa estrella te diz;
Tão bella, tão virtuosa,
Não temas ser infeliz.

5 de Junho de 1851.